Grandes eventos do calendário cultural curitibano – como o Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba, o festival literário Litercultura, a bienal de quadrinhos Gibicon e o Festival de Curitiba, de teatro – têm um desafio em comum.
Nunca na história desses eventos os organizadores tinham chegado ao fim de janeiro com tão poucos recursos arrecadados pela lei de incentivo à cultura.
A crise econômica alcançou o setor do incentivo privado a projetos culturais, mas não se cogita o cancelamento de nenhum deles. Em alguns casos, os produtores terão de adaptar seus projetos para responder à crise.
Um dos organizadores do Olhar de Cinema, o produtor Antônio Júnior, garante a realização da quinta edição do festival entre os dias 8 e 16 de junho, mas destaca que foram necessárias “algumas mudanças estruturais que talvez o público nem perceba” para se adequar ao orçamento do ano.
Manoela Leão, a diretora do Litercultura conta que o festival terá que se adaptar à crise e será “um pouco menor”, sem os capítulos ao longo do ano como nas edições anteriores.
Manoela avalia que a crise econômica teve três efeitos nas empresas que costumam apoiar projetos culturais.
As que davam patrocínio direto a eventos estão evitando gastos ou direcionando os recursos para projetos ligados a esportes em ano de Olimpíada no Brasil.
Além disso, algumas empresas fecharam 2015 no vermelho e não podem descontar do imposto de renda os recursos da lei Rouanet.
Assim, outras empresas que pretendem apoiar projetos culturais ficaram com mais demanda de projetos e menos recursos.
“Essas empresas, às vezes, têm que fazer ‘a escolha de Sofia’”, diz Manoela.
O Festival de Teatro de Curitiba ainda não divulgou oficialmente sua programação, mas comenta-se nos bastidores que o evento deste ano também será diminuído pelas contingências do mercado.
A organização da Gibicon também começou 2016 com menos recursos captados do que em outros anos.
Segundo o diretor geral, Fabrizio Andriani, há “sempre o risco de um evento desse tamanho não sair”, especialmente num ano em que a palavra crise é a que todo mundo fala.
“Talvez não fique do tamanho que a gente gostaria, mas tenho certeza de que vamos conseguir fazer e bem.”
R$ 800 mil
Para finalizar seu evento bienal, marcado para a primeira semana de setembro, a Gibicon precisa captar os R$ 800 mil a que tem direito pela Lei de Incentivo à Cultura. Ou pelo menos 40% deste montante, um pouco mais de R$ 320 mil. Este é o valor mínimo para garantir a realização do evento.
Sensibilidade
Criada em 1991, a lei Rouanet possibilita que empresas apoiem projetos culturais e abatam o valor total no pagamento de impostos. No caso de pessoas jurídicas, a receita abre mão de parte, 4%. As pessoas físicas podem destinar até 6 % .
Antônio Junior, do Olhar de Cinema, destaca que o mecanismo é uma grande vantagem para as empresas.
“Muitas vezes o empresário paga tributos sem a certeza de como o recurso será usado. Apoiando um projeto como o Olhar de Cinema ele tem certeza do destino do dinheiro e associa o nome a um evento de grande visibilidade” , explica. “Nós acreditamos que os empresários terão sensibilidade para apoiar o festival que tem um crescimento de público constante.”
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