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Talvez esteja no DNA da atriz, comediante, apresentadora e entrevistadora Regina Casé o talento para as comunicações. Seu avô, Ademar Casé (1902-1993), é o que se pode chamar de visionário, que se tornou um dos pioneiros do rádio e televisão no Brasil, como mostra o documentário Programa Casé - O que a gente não inventa, não existe (veja horários das sessões; atenção a data de validade da programação em cinza).
Dirigido pelo premiado curtametragista Estevão Ciavatta ("Nelson Sargento", de 1998), marido de Regina, o filme é um resgate apaixonado da história dessa figura das telecomunicações no país, cuja vida se confunde com a própria história do Brasil, por ter atuado num período de efervescência industrial e cultural.
Ciavatta dá, na montagem assinada por Gian Carlo Bellotti e Joana Ventura, o fôlego que o filme precisa para não cair no marasmo de documentários discursivos ou laudatórios. A espinha dorsal do filme está numa entrevista do próprio biografado recuperada dos arquivos do Museu da Imagem e do Som (MIS). Nela, Casé revê sua história e trajetória. As falas são ilustradas de forma rica, com imagens de arquivos de instituições e da própria família Casé.
Depoimentos gravados nos últimos dez anos pontuam o documentário e fazem uma ponte entre passado e presente. É em "Programa Casé - O que a gente não inventa, não existe" que estão as últimas entrevistas dos músicos Dorival Caymmi e Braguinha, mortos em 2008 e 2006, respectivamente. Curiosamente, em ambas, as respectivas esposas ganham destaque de forma inusitada e divertida. Parte disso, graças à perspicácia de Regina, que conduz algumas entrevistas.
Como Regina e Ciavatta contaram no III Paulínia Festival de Cinema, em julho passado, onde o filme foi exibido em competição, algumas imagens que seriam usadas no filme tiveram de ser descartadas por conta do alto valor cobrado pelos direitos autorais, mesmo sabendo que o filme era de baixo orçamento. "Todo mundo acha que tudo no Brasil é Mickey Mouse e dá muito dinheiro", criticou a atriz na época do festival.
De qualquer forma, os dez anos de pesquisa de Ciavatta estão na tela e são muito bem utilizados para o resgate dessa história que, apesar da participação e presença da família de Casé, nunca cai na armadilha de um filme institucional-familar - pelo contrário, é ao mesmo tempo nostálgico, elucidativo e divertido, apontando as conquistas, fragilidades e contradições do ser humano.
Casé foi responsável pelo surgimento de Noel Rosa no cenário musical brasileiro. Foi também sócio de Assis Chateubriand, na década de 1950, para o lançamento da televisão. Transportou para esse meio de comunicação vários dos macetes que inventou e aprimorou no rádio.
Ao fugir do didatismo, "Programa Casé - O que a gente não inventa, não existe" ganha um apelo universal e dialoga com qualquer plateia.
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