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Retratada no filme Flores Raras, Elizabeth Bishop agora tem sua obra em prosa editada no Brasil | Divulgação
Retratada no filme Flores Raras, Elizabeth Bishop agora tem sua obra em prosa editada no Brasil| Foto: Divulgação

Lançamento

Prosa. Elizabeth Bishop. Tradução de Paulo Henriques Britto. Companhia das Letras, 344 págs., R$ 47.

Este é um bom momento para a obra da poeta americana Elizabeth Bishop (1911-1979) no Brasil. Depois de passar anos fora de catálogo, sua passagem pelo Brasil virou filme em 2013 (Flores Raras, de Bruno Barreto); sua poesia já havia sido reeditada em 2012, pela Companhia das Letras, com Poemas Escolhidos, na elogiada tradução de Paulo Henriques Britto; agora, é a vez de sua obra em prosa voltar às livrarias — acrescida de inéditos.

A Companhia das Letras acaba de lançar Prosa, com 18 textos de todas as fases do amadurecimento artístico da autora, traduzidos e selecionados pelo mesmo Paulo Henriques Britto. Numa parte, são os mesmos de Esforços do Afeto e Outras Histórias (1996). Outros fazem parte da edição com sua prosa completa, organizada pelo poeta americano Lloyd Schwartz.

"A edição do Schwartz é muito grande e tem textos que não são particularmente bons. O critério foi escolher o que havia de melhor. Também quis pegar um pouco de cada época, desde os textos escolares até os mais famosos, que eu já tinha traduzido em 1996", diz Britto, que escolheu ainda a parte autobiográfica da ficção de Elizabeth Bishop.

Amor e ódio

Foi Schwartz quem localizou inéditos da poeta americana. E eles permitem ver a relação de amor e irritação — e, vá lá, uma boa dose de preconceito — que ela mantinha com o Brasil.

É o caso do texto "Na Ferrovia Chamada Encan­­tado", escrito por Bishop para o New York Times nos anos 1960. Nele, a autora narra o réveillon de 1965, quando o Rio comemorava 400 anos. Enquanto multidões se reuniam para homenagear Iemanjá, a poeta descrevia a comemoração como "bem carioca": latina e africana, católica e pagã. Um pouco desorganizada — é, já era assim —, mas de "uma beleza inesperada".

Para ela, não é bem uma cidade linda, mas "o cenário mais lindo do mundo" para uma cidade. E começa a reclamar de problemas tão cariocas que, pelo visto, já eram os mesmos naquela época. Bishop via o Rio como uma cidade decadente. O trânsito a irritava. As ruas eram escuras. Os prédios de Copacabana eram sujos.

Ela também já apontava um problema que até hoje preocupa muita gente: "Não há como saber por quanto tempo o samba ainda vai resistir ao comercialismo (...): já há sinais de deterioração". Bom mesmo, para ela, era o Aterro do Flamengo, projetado por sua companheira, Lota de Macedo Soares.

Uma visão mais franca — e mais dura — sobre o Brasil aparece nas cartas que Elizabeth Bishop trocou com a crítica literária Anne Stevenson. Nelas, aparece de forma muito clara seu apoio ao golpe de 1964.

Elizabeth Bishop achava João Goulart "um ladrão" e dava graças a Deus por sua deposição. Castello Branco, primeiro presidente militar, ela via como honesto e inteligente. "Nunca na minha vida, antes de vir para cá, sonhei por um minuto que algum dia eu gostaria de ver um exército tomar o poder", escreveu a poeta um mês depois do golpe.

Huxley

A história curiosa é a da viagem com Aldous Huxley a Brasília e à Amazônia, onde conheceram os índios iaualapitis, acompanhados por Antonio Callado. Ela escreveu uma reportagem para a New Yorker que nunca foi publicada.

O que é compreensível. Bishop diz suas impressões, mas quase não menciona as de Huxley, o tema da reportagem. Mesmo assim, faz um relato engraçado. Ela acha os índios "cheirosos", toma banho de rio com eles e os presenteia com fósforos e cigarros. Até um encontro com Claudio Villas-Bôas, um dos irmãos Villas-Bôas, o grupo tem. Claudio, surpreso, se joga aos pés de Huxley, se dizendo muito fã do escritor britânico.

A poeta ainda saiu da tribo lisonjeada. Um dos índios se disse viúvo e perguntou se ela não queria se mudar para a tribo e ser sua mulher.

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