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Biografia

A Ira de Nasi

Mauro Beting e Alexandre Petillo. Belas-Letras, 320 págs., R$ 34,90.

Nasi, ex-vocalista do Ira! (banda que existiu de 1981 a 2007), com frequência compara sua história ao lado dos companheiros de banda, sobretudo Edgard Scandurra, às de ícones do rock: Mick Jagger e Keith Richards, do Rolling Stones. Pete Townshend e Roger Daltrey, do The Who. O choque entre lideranças.

"Até acho sadio, uma coisa boa numa banda de rock, existir essa bipolaridade clássica", diz, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo.

Assim, não foi difícil para o músico, nascido Marcos Valadão Rodolfo em 1962, expor também os episódios mais insólitos e degradantes de sua vida em paralelo à sua trajetória à frente de uma das bandas de maior relevância no rock brasileiro na biografia A Ira de Nasi, dos jornalistas Mauro Beting e Alexandre Petillo.

"A vida particular dos artistas de rock sempre foi exposta. Se bobear, ele vende mais seu estilo de vida do que a música. São coisas intrínsecas", explica.

O livro

Petillo, que trabalhou de 2003 a 2006 em uma biografia do Ira! (abortada pela insegurança jurídica que o fim turbulento da banda gerou), imprime um estilo mais objetivo ao situar a carreira da banda em uma espécie de história social do rock paulistano dos anos 1980.

Daí uma breve biografia musical de Scandurra também estar presente, de forma até reverente, em contraste com os depoimentos ácidos de Nasi sobre o ex-companheiro.

"Tanto Nasi quanto Edgard tinham várias ramificações em outras bandas. A história acaba passeando por toda a efervescência que tinha em São Paulo nos começo dos anos 1980. É uma página importante do rock nacional", explica Petillo, que traça as relações da cena dos grupos punk suburbanos e new wave com a Vanguarda Paulistana e a intelectualidade da USP, o conflito entre a capital e o ABC paulista e a resposta da juventude ao momento de instabilidade política e econômica do Brasil no período.

Intimidade

O responsável por assumir a biografia a partir de onde Petillo parou – justamente o período de término, marcado por batalhas judiciais entre Nasi e o próprio irmão e empresário, Airton Valadão Junior –, foi Mauro Beting, fã declarado do Ira! e amigo do vocalista.

A personalidade e episódios da vida de Nasi são contados de maneira mais apaixonada. No entanto, Nasi não é poupado pelos autores e nem pelos seus próprios depoimentos, que, junto com o de personagens como o produtor Rick Bonadio, recortam toda a história. Da relação do biografado com as drogas ao caso que teve com uma namorada de Edgard, em 1994, que gerou consequências jamais superadas pelos companheiros de banda – curiosamente, revelado uma única vez antes do livro para o curitibano Jornal do Estado.

"São coisas que eu vivi. Não tenho que pedir permissão para o Edgard para falar algo. Se houve triângulo, sou um dos vértices", diz.

"É o final de um ciclo da minha vida: criei o Ira!, estive à frente do Ira! e de seu do final. Está tudo aí, exposto. Cada um que chegue à conclusão que achar mais justa", diz o músico, que está trabalhando em um novo disco, Perigoso, previsto para novembro.

A arte do disco, não à toa, será inspirada pela capa do livro.

"Gostaria que fosse assim: estou contando na biografia minha vida até os dias de hoje. E é isso [o álbum] que estou fazendo daqui pra frente."

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