Dezembro anuncia uma entressafra para lançamentos de vídeo que deve seguir até março. O senso comum diz que, no verão, as pessoas não ficam dentro de casa assistindo a filmes. Mas nem todo mundo é fã de praia e carnaval ou consegue ficar semanas sem ver um bom título. Para esses, Provocação, a ser lançado às videolocadoras na segunda quinzena deste mês, merece degustação lenta e atenciosa.

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Baseado em romance de John Irving – Viúva por um Ano, recém-lançado pela carioca Record –, trata da história de uma família amputada, os Cole, que perderam seus dois filhos adolescentes Thomas e Timothy. Em uma tentativa desesperada de atenuar a dor da perda, Ted (Jeff Bridges) e Marion (Kim Basinger) decidiram ter mais um filho. No lugar do garoto aguardado, nasce Ruth (Ellen Fanning, a cara da irmã Dakota, coadjuvante de Tom Cruise em Guerra dos Mundos). O livro toma o ponto de vista de Ruth, enquanto o filme transita pelos quatro personagens centrais – além da família, o jovem Eddie O’Hare (Jon Foster), aspirante a escritor contratado por Ted para trabalhar como motorista. Aliás, se for ler o livro, faça isso depois de ver o filme. As narrativas são bem diferentes e algumas informações dadas nas páginas iniciais do romance viraram revelações no cinema.

O culto à memória dos filhos perdidos – evidente nas paredes da casa, tomadas por retratos dos meninos –, somado aos eventos obscuros que envolvem a forma como morreram, vai, aos poucos, tornando a convivência de Marion e Ted impossível. Para adiar a separação, eles chegam a alugar um apartamento e criam um revezamento entre quem fica em qual residência. Mas nada disso parece servir de consolo.

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No papel do escritor de livros infantis mulherengo, Bridges entrega sua melhor performance desde O Grande Lebowski. Entre o lírico e o cômico, Ted se beneficia dos cacoetes do ator – que, às vezes, fala como se tivesse com a boca cheia de comida – e tem as melhores frases do filme. Uma delas aparece quando diz o que pensa sobre a primeira história de Eddie ao próprio e se reserva o direito de ser implacável.

A mãe é indiferente a tudo menos ao sentimento de perda. Chega a entrar em estado catatônico sempre que lembrada do acidente que tirou a vida dos filhos. Com mais de 50 anos, Basinger tem um desempenho corajoso, incluindo cenas de nudez discreta. Nesse quesito, porém, é Mimi Rodgers, de 49 anos, quem surpreende ao aparecer nua em pêlo (literalmente).

Irving e o roteirista e diretor Todd Williams parecem seguir à risca a teoria do personagem de Bridges, segundo a qual uma história se faz com especificidades. Provocação é repleto delas – como o motivo que explica o título original, A Porta no Chão (The Door in the Floor). Esse é o meio pelo qual o filme permanece. GGGG