A dramaturga inglesa Sarah Kane passou a vida às voltas com a depressão. Foi ficando cada vez mais debilitada, até que decidiu dar um basta a tanto sofrimento: em 1999, aos 28 anos, enforcou-se com um cadarço de tênis no banheiro de uma clínica psiquiátrica.

CARREGANDO :)

A última de suas cinco peças, Psicose 4h48, reflete diretamente as angústias e a experiência de Kane ao ser submetida a tratamentos médicos. Apesar de ter sido escrita há apenas oito anos, a peça já é considerada um clássico do teatro contemporâneo, não só pela temática extremamente atual, mas pelo texto. "Kane usa uma linguagem poética, minimalista, com um tom de devaneio entre o dramático, o lírico e o narrativo", explica Marcos Damaceno, que, em 2004, montou uma versão da peça inglesa em Curitiba.

A peça retorna aos palcos da Casa do Damaceno, espaço da Marcos Damaceno Companhia de Teatro, para uma única apresentação, hoje, às 20 horas, antes de seguir para Salvador, onde fará temporada. "Sempre que retomamos os ensaios da peça, gostamos de apresentá-la ao público daqui", conta Rosana Stavis, que recebeu o Troféu Gralha Azul de Melhor Atriz de 2004 por sua atuação como Kane.

Publicidade

O processo de criação da personagem não foi tarefa fácil para a atriz. Ela conta que, em um primeiro momento, analisou o texto, atendo-se à musicalidade das palavras, à respiração. Só mais tarde, adicionou emoção. Sensibilizada pela gravidez, em alguns momentos acabou embaralhando seus sentimentos com os de Kane. "Psicose tem um tema urgente, que é a depressão. A cada dia, mais pessoas sofrem desse mal e achamos que muito pouco se discute sobre isso", diz o diretor. A própria Stavis sentiu na pele o sofrimento da dramaturga quando, pouco depois da estréia, teve uma depressão pós-parto.

Damaceno conta que procurou dirigir o espetáculo como um maestro rege uma orquestra. "80% com o ouvido", conta. O resultado é uma montagem que procura ser fiel ao experimentalismo de Kane, preocupada em discutir temas como o amor, a solidão e a violência a partir de textos que abusavam de música e poesia.

Serviço: Psicose 4h48. Casa do Damaceno (R. 13 de Maio, 991), (41) 3223-3809. Com a Marcos Damaceno Companhia de Teatro. Com Rosana Stavis e Marcelo Bagnara. Dia 22, às 20 horas. R$ 14 e R$ 7 (estudantes). Recomendado para maiores de 14 anos.