A essência do Punho de Ferro repousa no poder de um praticante de artes marciais místicas de concentrar o seu chi com tamanha intensidade que ele gera uma energia capaz de transformar o seu punho numa arma indestrutível. Porém, acontece com Danny Rand (interpretado por Finn Jones), na série “Punho de Ferro”, produzida pela Marvel em colaboração com a Netflix, que, sempre que ele se distrai, seja por sua própria culpa, seja por interferência alheia, ele perde a concentração e o poder de canalizar essa arma mortífera. É o tipo de experiência que você mesmo terá ao assistir ao “Punho de Ferro”, que será disponibilizado nesta sexta-feira (17) pelo serviço de streaming.
Você quer gostar da série – e há momentos em que você vai gostar de fato –, mas é impossível, apesar de todo o seu chi acumulado como amante dos quadrinhos, assistir a este seriado sem que sua experiência seja maculada pela polêmica que o cerca desde que Jones foi escolhido para fazer o papel de Danny Rand.
Há, no momento, entre os fãs do Punho de Ferro nas redes sociais, dois lados alimentando as chamas da discórdia. De um dos lados, temos os fãs dedicados que exigem uma adaptação autêntica dos quadrinhos que eles amam e que esperavam que o Punho de Ferro/Danny Rand fosse um cara branco, loiro e rico que se torna um mestre das artes marciais graças às suas experiências numa terra fantasmagórica chamada K’un-Lun. Do outro, há aqueles que ficaram com a impressão de que a Marvel/Netflix teve uma bela oportunidade de colocar um protagonista de etnia asiática – o que muitos acharam que seria adequado, dada a influência pesada que as artes marciais têm sobre o material – e acabaram errando a mão.
A melhor maneira para a Marvel/Netflix vencer toda essa energia negativa seria escolhendo a melhor história possível do Punho de Ferro para produzir uma adaptação em live-action. E foi isso que eles fizeram? Bem, depende do ponto de vista e do quanto você gosta de cenas de reuniões de firma.
Eu fui um dos muitos que gritaram coletivamente quando foi anunciado que “Punho de Ferro” era uma das quatro propriedades da Marvel que a Netflix iria produzir (as outras três sendo “Demolidor”, “Jessica Jones” e “Luke Cage”, que irão se unir ao Punho de Ferro neste ano ainda para formarem a equipe “Os Defensores”, que é tipo os Vingadores). De cara eu já pensei nos primeiros volumes dos quadrinhos do “Imortal Punho de Ferro”, da Marvel, escritos por Matt Fraction e Ed Brubaker e ilustrados pelo artista David Aja. A série girava em torno do lado místico do Punho de Ferro, com ele competindo num torneio de artes marciais de outra dimensão. Era um material espetacular que estava só esperando para ser adaptado.
Será que é?
Em vez disso, o que Marvel/Netflix nos oferecem são muitas cenas de Danny Rand em seu retorno a Nova York, aparentemente voltando do mundo dos mortos. Muitos pensam que ele teria morrido num acidente de avião quando era criança. Ele mesmo sobreviveu, mas seus pais não, e Danny luta para assumir o controle da empresa deixada por seu pai. Seus amigos se recusam a acreditar que ele seja quem diz que é. A pergunta que fica, “será que ele é o Danny Rand mesmo?”, permeia todos os primeiros episódios, o que é irônico, dado que muitos dos espectadores do seriado – especialmente os descontentes com a escolha de elenco – irão se perguntar se ele é o Danny de verdade.
Se você tem esperanças de ver cenas incríveis de artes marciais (e quem não tem?), talvez seja melhor, em vez disso, assistir à primeira temporada de “Demolidor”, que, pelo menos até agora, é a melhor das séries em termos de coreografia de luta. Jones parece meio duro, sem articulação, com os seus golpes, mas começa a melhorar finalmente depois que começam as ameaças do grupo secreto de vilões de “Punho de Ferro”, conhecido como “a Mão”.
Há muitas coisas boas neste seriado. Collen Wing (Jessica Henwick) luta ao lado de Danny e às vezes faz a gente desejar que tivesse sido ela e não ele quem foi escolhido para fazer o Punho de Ferro. Claire Temple (Rosario Dawson) continua a ser o elo que amarra todos os seriados da Marvel/Netflix e é provável que será ela quem irá apresentar Danny aos outros “Defensores”.
Madame Gao (Wai Ching Ho), que teve sua estreia em “Demolidor”, continua demonstrando que tem o poder de vencer o herói no seu caminho com uma mão amarrada, mas sempre prefere observar antes de atacar. Os raros momentos em que ela mostra a sua força em “Punho de Ferro” são sempre divertidos.
Mas e o uniforme?
Vocês devem estar se perguntando, provavelmente, “mas e a máscara amarela e o uniforme verde dos quadrinhos?”. Até agora não tem nem sinal do uniforme, e os produtores da série deixaram implícito que ele não deverá aparecer em momento algum – o que é mais um motivo para os espectadores reclamarem (fãs adoram uniformes). Mas, se ele for dar as caras lá pelo final da temporada, como aconteceu em “Demolidor” com a revelação do uniforme vermelho com chifrinhos no fim da primeira temporada, essa aparição renderia um chi bem forte para o “Punho de Ferro”.
As resenhas não muito positivas que foram publicadas online tratam dos primeiros seis episódios, o que significa que há sete chances ainda nesta temporada de 13 episódios para Jones causar uma boa impressão com os seus punhos.
“Punho de Ferro” não é uma série ruim, nem o primeiro fracasso dos esforços conjuntos da Marvel com a Netflix. Mas acontece que é o primeiro projeto em que a escolha de elenco do protagonista não foi um acerto de primeira, aclamado universalmente. Jones não evoca nem a atuação de Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth ou Chris Pratt, mas ele se esforça. Ainda tem bastante tempo para ele aperfeiçoar os seus golpes – talvez até mesmo vestindo um uniforme colorido de super-herói.