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No Brasil, nenhuma. Não existe nem sequer um autor que tenha se tornado campeão de vendas só porque venceu o Nobel de Literatura. O prêmio dá prestígio ao escritor e à editora, mas o número de leitores brasileiros que vai comprar o livro do sujeito porque ele ficou milionário do dia para a noite – a academia sueca paga algo em torno dos R$ 3 milhões ao eleito – é pequeno. "Inexpressivo", para usar o termo dito por Pascoal Soto, diretor editorial da Planeta, dona de dois títulos do húngaro Imre Kertész, Nobel de 2002.

Na última quinta-feira, os suecos escolheram o britânico Harold Pinter. Até agora, ninguém demonstrou interesse em publicá-lo no Brasil. A julgar pelo tratamento dado aos outros dramaturgos laureados, as chances dele são nada boas. O lendário Eugene O'Neill (1888 – 1953), autor de 45 peças, entre elas Longa Jornada Noite Adentro, venceu o Nobel em 1936 e é vergonhosamente ignorado pelo país do futebol. Samuel Beckett (1906 – 1989) levou o de 1969 e só agora, 36 anos depois, sua peça mais conhecida, Esperando Godot, é lançada pela CosacNaify – responsável também pela publicação de Fim de Partida. Esses dois livros são tudo o que existe do teatro de Beckett, que soma mais de 30 peças, no mercado nacional.

Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), Nobel 1964, é mais conhecido como filósofo, mas existem duas peças editadas (de um total de 26), Prostituta Respeitosa e Entre Quatro Paredes. Vencedor do Nobel em 1934, Luigi Pirandello (1897 – 1936) é o mais publicado com seis textos teatrais – de uma bibliografia com mais de 50. Dario Fo, o dramaturgo que antecedeu Harold Pinter, escolhido em 1997, não tem sequer uma de suas mais de 70 peças editada no Brasil.

Marcelo Levy, diretor comercial da Companhia das Letras, dona das obras de uma dezena de "nobelizados", afirma que o prêmio não muda a trajetória comercial de um livro. Quando há interesse do público, ele "poderá ser potencializado", mas a láurea não é garantia de sucesso comercial. O melhor exemplo é o português José Saramago (1998), único Nobel a figurar entre os dez autores mais vendidos da editora – que já era um sucesso antes de ser apontado pela academia sueca. Já em relação ao poeta irlandês Seamus Heaney (1995), com somente um livro editado no país, "não deu nada".

"Não quero diminuir a importância do Nobel, mas, quando um autor vence, é uma coisa momentânea, que não tem impacto nas vendas. Porém, a editora se orgulha muito", diz Levy. Para Pascoal Soto, da Planeta, a premiação funciona mais para valorizar a marca da editora. "Normalmente, os ganhadores não são escritores, digamos, comerciais. O Nobel vai influenciar o leitor sofisticado, aquele com uma vivência cultural mais complexa. A premiação chamou atenção para Kertész, mas não significou um aumento substancial nas vendas", afirma Soto.

Carlos Carvalho, do setor de divulgação da Objetiva, destaca que a imprensa é sempre generosa com os escritores que ganham prêmios e acredita que a influência do Nobel é mais evidente no calor do momento. "Vencedores antigos não são lembrados pelo público", acredita. Apesar da visibilidade maior, Carvalho admite que as vendas não impressionam e cita como exemplo A Montanha da Alma, de Gao Xingjian (2000), único Nobel no catálogo da editora.

A influência pequena do prêmio criado por Alfred Nobel no Brasil é conseqüência direta da leitura. Em um país onde poucos se interessam por literatura, é evidente que qualquer premiação dedicada a livros pareça insignificante. É como tentar explicar a importância da Copa do Mundo para um nova-iorquino fã de beisebol.

Wislawa Szymborska (1996), Derek Walcott (1992), Wole Soyinka (1986), Jaroslav Seifert (1984), Czeslaw Milosz (1980), Odysseus Elytis (1979) e vários outros ganhadores do Nobel são estranhos para o mercado brasileiro. A austríaca Elfriede Jelinek (2004) teve os direitos de suas obras comprados pela editora Francis, mas ainda não há previsão de lançamento.

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