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A produção de longas-metragens ainda é um processo de difícil realização no Brasil, mas o trabalho tem sido facilitado nos últimos anos com a criação de vários editais de apoio por parte do Ministério da Cultura e das estatais, que complementam os recursos obtidos por meio das leis de incentivo federais e estaduais. Se colocar o filme na lata (jargão para a produção finalizada) já não é um desafio tão grande, o maior problema a ser enfrentado pelos cineastas brasileiros é o gargalo da exibição.

O mercado nacional é completamente dominado pela cinema estrangeiro, principalmente pelo norte-americano. Para piorar esse cenário, há ainda uma grande rejeição de boa parte do público ao filme brasileiro, barreira que parecia ter sido ultrapassada em 2003 (ano de Carandiru, Cidade de Deus, Os Normais, entre outros sucessos), quando os longas nacionais chegaram à incrível marca de 22% de ocupação das salas do país.

Essa participação caiu muito nos anos seguintes e lançar longas-metragens brasileiros tem sido um processo cada vez mais complicado, mesmo para quem tem o sonhado selo Globo Filmes, que até bem pouco tempo era uma espécie de garantia de bilheteria. Os campeões de público do cinema brasileiro ainda são as produções ou co-produções da empresa, mas sucesso nacional na tela grande é cada vez mais raro hoje em dia.

O fato é que não há uma fórmula mágica para um filme conquistar o público, que o diga o curitibano Paulo Munhoz, que lançou há pouco mais de um mês seu primeiro longa-metragem de animação, Brichos. Com 25 cópias (dez em película e 15 digitais), a produção já estreou em várias cidades brasileiras, conseguindo pouco mais de 4 mil espectadores – fez outros 6 mil nas mostras de cinema que participou (como as importantes AnimaMundi e Festival de Brasília).

Fracasso? Um pouco, mas nada comparado, por exemplo, ao filme Antônia (Tata Amaral), lançado com mais de cem cópias e uma grande expectativa, devido ao seriado homônimo que fez sucesso na Rede Globo, em 2006. A produção conseguiu 75 mil espectadores depois de cinco semanas de exibição e dificilmente chegará a 100 mil – a projeção era de 500 mil. Isso tem acontecido freqüentemente no cinema nacional, com as fitas conquistando bilheterias muito abaixo do esperado.

"Acho que errei muito na estratégia, por desconhecimento. Também fomos surpreendidos por algo que não estava sob nosso controle: não recebemos os recursos do edital de apoio à distribuição da Petrobrás, que iria nos ajudar a ter anúncios em jornais, no metrô, pontos de ônibus", explica Munhoz. Sem o dinheiro da Petrobrás – que não foi repassado por uma mudança na Lei Rouanet, mas que ainda deve ser recebido –, o diretor paranaense decidiu bancar a estréia com recursos próprios, ao lado da pequena distribuidora gaúcha Panda.

Fator Oscar

Houve erro também na escolha da data de lançamento, em fevereiro, mês atualmente dominado pelas produções concorrentes ao Oscar, que tomam toda a atenção da mídia. Este pode também ter sido uma das razões do mau desempenho de Antônia – pode ter havido ainda um certo preconceito, pois o filme é focado em personagens de origem humilde, com protagonistas negras quase desconhecidas; mas Cidade de Deus tinha perfil semelhante e foi um grande sucesso.

Munhoz conta que chegou a pensar em adiar o lançamento de Brichos, mas a distribuidora alertou que havia sido feito um grande esforço para reservar as salas: "Poderíamos ficar queimados com os exibidores". Segundo ele, a animação pode não ter conquistado grandes audiências, mas quem vê gosta muito do trabalho. "Todo dia, recebo e-mails elogiando o filme", confirma.

O curitibano lembra que teve apoio de vários exibidores como a UCI (Estação) e os cinemas administrados por Milton Durski (Água Verde, Portal, Cine Plus, Curitiba) e também de uma sala digital do Rio de Janeiro, que apostou muito na animação. "Acho importante o exibidor trabalhar o filme também. Mas a maioria só quer mesmo os blockbusters americanos e deixam nosso trabalho passando em apenas uma sala e em horários ruins", revela.

O diretor diz que, apesar do interesse de algumas empresas, ainda não conseguiu fechar nenhum contrato de licenciamento da marca Brichos, para a comercialização de materiais escolares, brinquedos, etc. O mercado de DVD pode aumentar o público da fita, assim como os projetos com escolas. Ele já tem parcerias acertadas com colégios de Curitiba e tenta fechar outras em Minas Gerais, Pernambuco e Sergipe.

"Foi corajoso fazer Brichos. Sabia que não seria fácil, mas não imaginava que seria tão complicado!", avalia Munhoz. Sua experiência foi um grande aprendizado que pode ser utilizado em seus próximos projetos (Brichos 2, que já tem roteiro pronto, e o desenho Beloar, vencedor de um edital de telefilme do governo do estado) e também pelos cineastas paranaenses que estão com filmes na lata, esperando o momento certo de lançar suas produções.

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