O ano de 2011 em Curitiba foi marcado por grandes e importantes apresentações: de Chico Buarque ao rock do Pearl Jam, passando pela música erudita do tenor José Carreras e pelo pop romântico de Julio Iglesias. Boa parte das atrações programadas para o ano, porém, ficou apenas na intenção. O grupo israelense que faz o espetáculo de teatro e dança The Aluminum Show, os cantores Reginaldo Rossi e Benito de Paula, os roqueiros Alice Cooper e John Forgety, da banda Creedance Clearwater Revival, são alguns exemplos de artistas que tiveram seus shows anunciados, para logo depois serem cancelados, mas que encheram casas em outras capitais ao longo do ano.
Com isso, surgem as questões: por que algumas atrações não vingam em Curitiba e como decifrar a disposição e o gosto do público curitibano? A resposta para essas perguntas, muitas vezes aplicáveias a outras capitais de médio porte, é buscada incessantemente pelos produtores culturais da cidade, conscientes de que podem levar prejuízo a cada nova apresentação.
Para Fábio Neves, da Seven Entretenimento que em 2011 trouxe Omara Portuondo e a Orquestra Buena Vista Social Club, e os cantores teen Nick Jonas e Manu Gavassi, entre outros uma das questões-chave são os espaços disponíveis na cidade. "Com o fim da Pedreira Paulo Leminski, perdemos o grande espaço para eventos em Curitiba. Temos agora apenas o Teatro Positivo e o Teatro Guaíra. O número limitado de vagas nesses espaços encarece o espetáculo e claro que isso influencia diretamente no público", opina, e completa: "Agora que tivemos o show do Pearl Jam no estádio do Paraná Clube, essa pode ser uma nova alternativa de espaço, mas shows em estádios são igualmente caros por gastos adicionais, como cobrir o gramado".
Divulgação
Se o espetáculo grande tem, até certa medida, o sucesso garantido pelo nome que o artista carrega e por uma sólida base de fãs (os punks do Bad Religion e os metaleiros do Slayer encheram o Curitiba Master Hall em 2011), as atrações de menor alcance, por outro lado, precisam de um investimento pesado em divulgação. É a opinião do produtor cultural Álvaro Collaço, responsável por concertos de música erudita, além da série Solo Música, do Teatro da Caixa: "Excetuando-se a Orquestra Sinfônica do Paraná, a música erudita recebe pouca atenção, e é preciso divulgá-la por meios alternativos, que são mais escassos em Curitiba do que em São Paulo, por exemplo".
Mesmo Verinha Walflor, que trouxe com sucesso absoluto Ney Matogrosso, Chico Buarque e o espetáculo poético Maria Bethânia em Palavras, afirma a necessidade de divulgação. "Nós, produtores, nos ressentimos de não termos mais condições de pagar uma mídia televisiva sem aumentar drasticamente o valor do ingresso."
Opções demais
Ainda assim, os produtores afirmam que há uma retração global da plateia de música e teatro, por inúmeras razões. "A casa das pessoas oferece hoje atrativos de entretenimento, como internet e tevê a cabo, e sair para um espetáculo envolve outros custos, como transporte, estacionamento e alimentação, que acabam pesando na decisão do público caso o ingresso já esteja caro", opina Collaço. Já para Verinha, a grande diversidade de atrações em uma cidade de público relativamente pequeno para o consumo cultural como Curitiba acaba jogando contra a intenção dos produtores: "O assalariado, que tem outras prioridades, não consegue acompanhar tudo e precisa escolher a dedo o que vai assistir".
Há ainda a saturação do artista. Nos bastidores conta-se que o cancelamento do show de Caetano Veloso e Maria Gadú, após uma semana de bilheteria aberta por questões de agenda segundo a versão oficial da Seven Entretenimento , ocorreu na verdade pela fraca vendagem. Seria algo surpreendente, se Maria Gadú não tivesse se apresentado em outras duas ocasiões no mesmo ano: uma em abril e outra em agosto. "Se uma atração espaça suas turnês, como Chico Buarque, por exemplo, as pessoas pagam mesmo um ingresso caro porque sabem que ele só voltará daqui a cinco anos, pelo menos", diz Verinha Walflor.
Nada disso vale, entretanto, sem conhecer o paladar cultural da cidade. "Em Porto Alegre, o Nazareth se apresentou para 500 pessoas. Aqui fez um show lotado para cinco mil. Assim como alguns shows não vingam em Curitiba, outros dão mais certo por aqui do que em outros lugares", afirma Álvaro Collaço.
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