Os curitibanos terão a oportunidade de conferir neste fim de semana o que é o projeto Breviário concebido por Heron Coelho, a partir de 2005, no Sesc Ipiranga, em São Paulo.
Naquele ano, o diretor, conhecido pelo seu envolvimento com musicais, como Por Lamartine... Babo! Do Guarani ao Guaraná, decidiu reler textos de autores brasileiros por meio de montagens, em um primeiro momento, sem qualquer apelo comercial.
Outra característica da proposta: todas as peças deveriam ter música ao vivo.
O projeto Breviário, que se desdobrou em uma companhia sem elenco fixo, viabilizou encenações de textos de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha (1936-1974) e de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), de quem Coelho era amigo e discípulo.
Em 2006, o dramaturgo sentiu a necessidade de levar aos palcos uma nova versão de Gota DÁgua, peça escrita em 1975, com músicas e letras de Chico Buarque e Paulo Pontes. E é exatamente essa montagem que chega ao palco do Teatro da Caixa nesta sexta-feira (3), sábado (4) e domingo (5).
Breviário Gota DÁgua (confira o serviço completo da peça) é uma adaptação livre da proposta de Chico e de Pontes. As diferenças começam pela duração: a montagem, realizada na década de 1970, tinha mais de quatro horas duração, enquanto a de Coelho não ultrapassa 120 minutos.
Mas tanto a primeira como essa "nova" versão de Gota DÁgua apresentam pontos em comum, sobretudo, pela atualidade do assunto. A distribuição de renda provocava e segue a cavar um fosso intransponível entre pobres e ricos, com consequências as mais perversas, a começar por esse flagelo que é a violência urbana.
"O espectador percebe, desde o início da apresentação, que o texto diz muito sobre o Brasil de 2010, com as suas contradições e becos aparentemente sem saída", diz Coelho, que em seguida completa: "Só estou interessado em textos de autores brasileiros, os que conhecem a realidade nacional, justamente para provocar alguma reação no público. Teatro apenas por entretenimento não é comigo".
Breviário Gota DÁgua se passa em um conjunto habitacional e tem como personagem central Joana, uma representação contemporânea de Medeia que rendeu à atriz Georgette Fadel o Prêmio Shell.