O cantor paulista Pedro Mariano herdou dos pais a nem sempre agradável condição de celebridade. Filho da cantora Elis Regina, talvez a maior intérprete da história do país, e do produtor, pianista e maestro César Camargo Mariano, desde cedo ele aprendeu a traçar uma linha divisória entre o que é de interesse público e o que não é da conta de ninguém. "Aprendi na marra", confessa.
Aos 32 anos, Pedro faz questão de preservar a privacidade, embora não encare essa exigência como obsessão. É uma escolha. "Coloco limites. Jamais, por exemplo, concordei ser fotografado em casa, com minha família. É um pouco demais", diz. O cantor conta que leva uma vida tranqüila, caseira até, ao lado da mulher e da filha, Rafaela, no município de Cotia, região metropolitana de São Paulo. Como dizia uma popular canção do repertório de sua mãe, é sua casa no campo, para seus discos, livros e, no caso do cantor, muito mais.
Há momentos, no entanto, nos quais Pedro sai da toca e sabe que precisa ir para o mundo, aonde o povo está. A rotina de entrevistas, shows e exposição à mídia torna-se inevitável e necessária quando um artista está lançando um trabalho. É o caso atual do cantor, que coloca no mercado seu auto-intitulado quinto CD, que leva seu nome e foi gravado pela Universal Music.
Nas palavras de Pedro, trata-se de uma espécie de recomeço. Para a nova fase, o intérprete optou por um retorno ao básico, com arranjos criados para o quarteto de instrumentistas que o acampanha tanto no disco quanto ao vivo, composto por Conrado Goys (violões e guitarras), Junior Vargas (bateria), Leandro Matsumoto (baixo) e Marcelo Elias (teclados e direção musical). Essa opção, nas palavras do cantor, deu às canções uma sonoridade limpa e objetiva. "Quis fechar um ciclo, começar uma história nova, bem mais fácil de ser começada pela experiência e a bagagem que eu carrego. Um recomeço, uma nova fase de um artista em um novo momento da vida. Quis então voltar para a base, sem muita enrolação", explica. Os CDs anteriores de Pedro, segundo ele mesmo conta, eram muito elaborados do ponto vista de produção, contando com muitas bases eletrônicas e efeitos elaborados em estúdio, o que, na hora de levá-los ao palco, dava uma estrutura meio engessada aos shows. Agora está tudo bem mais orgânico, mais ou menos como sua irmã, a cantora Maria Rita, vem fazendo desde o disco de estréia.
Vocação
Pedro sabia que seria músico desde os 2 anos. Recebeu seu primeiro cachê aos 14, quando gravava jingles. Tinha banda de rock, participava de festivais estudantis e chegou ao ponto de se inscrever com um pseudônimo. Sentia medo que, ao descobrirem sua "nobre linhagem", esquecessem de avaliar seus dotes vocais e o julgassem pelo pedigree. Desde essa época, já tinha como influências a black music norte-americana, primeiro por causa dos pais e depois por predileção. Para ele, soul, funk, jazz, samba e choro têm tudo a ver. E isso se reflete no seu trabalho, desde o primeiro CD, lançado pela Sony, há 10 anos. Pedro Mariano, nesse sentido, não é diferente e navega pelas mesmas águas. Apesar de cantar (muito bem, preciso dizer), seguindo o mesmo caminho profissional da mãe, Pedro tem como mais forte referência o pai, César Camargo Mariano. "Quase tudo que sei sobre música devo a ele", confessa. A mãe, embora admita ser uma grande referência do ponto de vista musical, é uma lacuna, uma espaço vazio, que muito aos poucos vêm preenchendo. "Como todos eu a admiro. Meu pai diz que tenho muitas coisas de parecido com ela, mas não por causa da convivência. Eu não a conheci", admite Pedro, que tinha 5 para 6 anos quando Elis morreu, em 1980.
A grande cantora que Elis foi, contudo, é presença forte na trajetória de Pedro, que costuma sempre incluir alguma canção do repertório da mãe nos seus discos. No CD novo está presente "Só Deus É Quem Sabe", composição de Guilherme Arantes, gravada em 1980 no LP Elis, último disco da cantora gaúcha.
Pedro nega que se trate de um tributo. "Eu gravei a música porque a adoro e sempre quis gravá-la. Nesse caso deu certo porque a versão original foi criada para um quarteto. De todo modo, ela também acabou cumprindo o papel de homenagem, pois o disco está saindo em 2007, quando faz 25 anos da morte de minha mãe", diz. Pedro Mariano traz, além da faixa de Guilherme Arantes, canções de Jair de Oliveira, possivelmente o compositor mais gravado por Pedro, Ana Carolina, Jorge Vercilo e outros menos conhecidos. GGG1/2
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