Elton John participou do Viajazz Music Festival, em Madri, no início de julho| Foto: Sergio Perez-Reuters/Gazeta do Povo

Depois de uma ótima trilogia de filmes urgentes, de temática forte – Os Matadores, Ação entre Amigos e O Invasor –, Beto Brant deu uma guinada na carreira, na direção de trabalhos mais introspectivos. A nova fase do cineasta paulista, iniciada com Crime Delicado (2005), começa a ganhar mais forma em Cão Sem Dono, filme que estréia hoje em Curitiba.

CARREGANDO :)

O quinto longa-metragem de Brant – que dessa vez tem a co-direção de Renato Ciasca, antigo parceiro e produtor de todos os seus filmes – é livremente inspirado no livro Até o Dia em Que o Cão Morreu, que o escritor gaúcho Daniel Galera lançou em 2003 por sua própria editora, a Livros do Mal – este ano, a obra ganhou reedição pela Companhia das Letras.

A ação se passa em Porto Alegre, para onde Brant, Ciasca, o roteirista Marçal Aquino, o fotógrafo Toca Seabra e a produtora Bianca Villar se mudaram, por um tempo, para realizar as filmagens. O restante da equipe, incluindo os atores principais, é originária da capital gaúcha. "Encaro o cinema como filosofia de vida, de conhecimento. Quero viajar, pôr o pé na estrada. Sempre gostei de Porto Alegre, mas passava de raspão por lá. Fazer o filme foi um pretexto para morar na cidade", contou o diretor na entrevista coletiva de Cão Sem Dono, no Cine PE 2007, festival em que a produção levou os prêmios de melhor filme e melhor atriz para a estreante Tainá Muller – ex-jornalista, ex-modelo, e que estava escalada para trabalhar como assistente de produção da fita; até bem pouco tempo, era a namorada de Daniel Galera.

Publicidade

A história de Cão Sem Dono fala de Ciro – vivido por Julio Andrade, ator de várias produções gaúchas –, jovem tradutor de livros russos que se encontra em um momento de imobilidade na vida. Sem trabalho e sem perspectivas para o futuro, ele vê tudo mudar com a entrada repentina da modelo Marcella (Müller) em seu dia-a-dia. Sonhadora, ela tenta injetar um pouco de ânimo na vida do rapaz, que vive apenas com um cachorro vira-lata que adotou da rua, o Churras.

Brant revela que Andrade se empenhou ao máximo na construção do personagem, indo morar na locação um mês antes da filmagens. "Ele adotou um cachorro do canil público e foi colocando suas coisas no apartamento", lembra. Os ensaios aconteciam à noite, assim como boa parte das cenas do filme. "Abrimos para os atores improvisarem e colocarem seus sentimentos. Quando iniciamos as filmagens, tínhamos apenas uma vaga noção do que iríamos fazer", continua o diretor, revelando que buscou encontrar a percepção do que seria o filme no momento de rodá-lo.

A filosofia em Cão Sem Dono é de que o mais é o menos. Dessa forma, o resultado é um filme simples na construção da história e dos personagens. A diferença principal em relação ao livro é que Ciro é um protagonista mais denso, ganhando um maior apelo dramático para sustentar melhor a trama. "Ele representa um mal-estar de uma geração, o não-entendimento do mundo, de compreender o mundo com uma tristeza muito grande", comenta Brant.

O filme revela um diretor ainda experimentando uma forma de fazer de cinema. Assim como em Crime Delicado, há alguns altos e baixos na realização de Cão Sem Dono – o final, por exemplo, é um tanto abrupto e estranhamente otimista demais para o tom que o filme estava tendo até então.

O aprimoramento dessa "fórmula" deve aparecer melhor em Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (Companhia das Letras), livro mais recente de Marçal Aquino, que será o próximo projeto de Brant. Assim como o título, a história é ótima e deve se encaixar perfeitamente no novo estilo de cinema do diretor. Mas Cão Sem Dono já é mais de meio caminho andado para atingir a perfeição na direção que o cineasta tomou recentemente na carreira. GGG1/2

Publicidade