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Leme: “O Estrangeiro, de Camus, é profundo e ao mesmo tempo incrivelmente simples, como toda obra-prima” | Roberta de Freita/ Divulgação
Leme: “O Estrangeiro, de Camus, é profundo e ao mesmo tempo incrivelmente simples, como toda obra-prima”| Foto: Roberta de Freita/ Divulgação

Outra estreia

A Mulher Que ri - Plínio Soares e Fernando Alves Pinto estão na peça A Mulher Que Ri, em cartaz hoje e amanhã, às 21 horas, no Sesc da Esquina (R. Visconde do Rio Branco, 969).

A montagem tem uma narrativa não-linear e conta a história de um jovem que se prepara para estudar em um internato. Ele precisa resolver a relação com o pai e romper o elo com a mãe.

Baseada em um conto popular do húngaro Zsigmond Móricz (1879-1942), A Mulher Que Ri é uma referência à mãe, vivida por Eloisa Elena, que opta por rir diante das adversidades.

Eloisa teve contato com o texto e ficou fascinada, pedindo para Paulo Santoro adaptá-lo.

Entre as questões caras ao espétaculo, estão a interdependência entre língua e memória, os laços familiares e ritos de passagem.

Serviço

O EstrangeiroQuando: Dias 24 e 25 de março, às 21hQuanto: R$ 40. Estudantes e pessoas maiores de 60 anos pagam meia-entradaOnde: Guairinha – Auditório Salvador de Ferrante (R. Quinze de Novembro, 971 – Centro – Curitiba – PR; Telefone: (41) 3304-7961)Veja o serviço completo no site Guias e roteiros RPC

Que a falta de sentido faz parte da vida, todos sabem, mas às vezes o que se insinua é que não haveria outro caminho que não o do nonsense. Isso vale para o mundo todo, desde sempre, aqui em Curitiba e em qualquer outro local, o Rio de Janeiro, por exemplo. Lá, em meio ao seu cotidiano, o ator Guilherme Leme, instalado em seu apartamento no bairro de Ipanema, entre leitura e fazeres diversos, escuta as rajadas da guerra do tráfico na favela. Ao circular pelo centro da cidade, é mais do que comum mirar um menino fumando crack, completamente desassistido pelos demais e, então, a ausência de sentido insiste em acontecer para lembrar que é constante.

Um recuo no tempo: Leme e a atriz Vera Holtz foram passar o Natal de 2006 na casa do amigo Morten Kirkskov, na Dinamarca. Uma romã, uma castanha, um drinque, outras palavras e, durante a ceia, Kirkskov ofereceu a Leme, como presente, uma adaptação teatral que ele havia feito para o romance O Estrangeiro, de Albert Camus. Ainda na viagem de volta, poltrona do avião com janela para o infinito, o ator brasileiro sabia que aquele projeto estaria fadado a se tornar realidade em território brasileiro.

Os anos de 2007 e 2008 representaram, para Leme, um mergulho na obra de Camus. Leu tudo, inclusive com o auxílio de estudiosos, críticos e filósofos. Em determinado momento, chegou a trocar as sessões de análise pelo estudo e imersão na produção do escritor franco-argelino. Realizou leituras públicas, de Brasília a São Paulo. O produtor Sergio Saboya já havia dito sim, faltava apenas o patrocínio. No auge da maturação do projeto, "antes que caísse de madura", a montagem recebeu todo o apoio do Sesc-RJ – isso ocorreu no fim do ano passado.

"O Estrangeiro, contido e reflexivo, é um espetáculo inteligente, interessante, uma grande contribuição para o panorama do teatro carioca deste momento." Assim a crítica de teatro Barbara Heliodora recebeu – com muito entusiasmo, nas páginas do jornal O Globo – a montagem que estreou dia 5 de fevereiro no Sesc Copacabana. Atualmente, a peça está em cartaz, de sexta-feira a domingo, no Teatro do Jockey Club, no Rio. Em Curitiba (hoje e amanhã), O Estrangeiro chega, portanto, depois de amadurecimento em breve, mas intensa temporada com boa repercussão junto à crítica e ao público.

Parcerias afinadas

Em cena, Leme usa roupa preta, a exemplo do que o início do livro sugere: um sujeito vestido "de luto" seguindo rumo a um dos muitos absurdos que o aguardam. "É um homem absurdo diante de um destino absurdo, assim como a vida." Dessa maneira, o ator define o personagem Meursault no livro e no palco. A direção do monólogo é dividida entre Leme e Vera Holtz. Ele focou nas nuances do universo de Camus. Vera coordenou o personagem interpretado por Leme.

"Completamente satisfeito." É assim que o ator diz ficar depois que sai do palco rumo ao camarim. O apoio da equipe conta, e muito, nesse projeto bem-sucedido. Além de Meursault, há outro personagem relevante: o Sol – sim, o "astro rei", que ganha complexidade a partir do trabalho de iluminação de Maneco Quinderé.

Leme surpreende-se com a reação, sobretudo dos jovens. "Ao entrar em cena, percebo a ‘moçada’ olhando atentamente, sorvendo cada palavra daquele texto belíssimo", observa.

Publicado originalmente em 1942, O Estrangeiro não cessa de manter a atualidade: afinal, de mínimos desrespeitos ao humano a conflitos bélicos, a falta de sentido segue, continuamente – e diz respeito a todos.

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Serviço: O Estrangeiro. Guairinha (R. XV de Novembro, 971), (41) 3304-7961. Hoje e amanhã, às 21 horas. Ingressos a R$ 40 e R$ 20.

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