Entre o aplauso e a indiferença
Nena entende de regularidade. Ela atuou em O Vampiro e a Polaquinha, texto de Dalton Trevisan e direção de Ademar Guerra, para muitos o maior sucesso do teatro paranaense. A montagem inaugurou o Teatro Novelas Curitibanas, em 1992, e ficou sete anos em cartaz. "O Vampiro... tinha de tudo: alcance popular, refinamento de linguagem, direção certeira, falava sobre a cidade e não tinha príncipes e princesas", define Nena. Por outro lado, ela acredita que o segmento não pode querer viver exclusivamente de bilheteria. "Sempre foi difícil conseguir isso".
O diretor João Luiz Fiani, que está novamente em cartaz com A Tarada do Boqueirão, discorda. "Somos uma companhia que aluga o galpão. Se não fizermos bilheteria, a gente vai ter que fechar." Seu teatro brasileiro de comédia (ah, a sigla TBC...), divide opiniões. "Muitos colocam a comédia à margem por puro preconceito com o que é popular. Isso vale, de modo geral, à imprensa também. A pergunta mais importante: qual é a exposição na mídia do teatro curitibano?"
Quando o Teatro de Arte de Moscou (T.A.M) foi criado em junho de 1897, Constantin Stanislavski, um ricaço do ramo têxtil com ambições intelectuais pouco modestas, e Vladimir Nemirovitch, reconhecido dramaturgo e crítico russo, tinham um propósito: criar um teatro popular que fugisse do caixote ideológico do governo imperial, desconversasse com os tipos fechados da época e, sobretudo, tivesse conformidade com a história um espaço que se comunicasse com seu tempo. Então, em 1898 surgiram montagens de Tolstói, Shakespeare, Sófocles: foi uma no cravo, outra na ferradura. Ao fim da primeira temporada, crise. As produções eram caras, os salários baixos, mas o público era, na média, bom. Ou seja, algo ainda não estava no prumo Nemirovitch apontava, como mérito da companhia, o fato de que todo mundo podia encontrar alguma coisa de que gostava. Ou odiava. Enfim, nos anos seguintes o T.A.M entrou para a história artística, mas não se pode dizer que em linha reta. Foram diversos sucessos e fracassos. Mais um do que o outro.
Ao largo, as experiências de Stanislavski-Nemirovitch evidenciam algo que a cena teatral curitibana pode perceber com os próprios punhos. Por mais que se exista uma forma de ver o teatro e se busque uma linguagem, a irregularidade impera e não há certezas. "Dirijo peças há trinta anos. Já tive montagens muito concorridas, como O Beijo no Asfalto, com mais de trinta apresentações lotadas, e outras, como Coquetel Overdose, baseada em Bukowski, que era linda, mas foi muito abaixo de nossas expectativas", afirma o diretor curitibano Edson Bueno.
Não é mesmo tarefa fácil encontrar um padrão, embora existam pistas, com as quais não se pode contar. Montar hoje Nelson Rodrigues é quase sempre garantia de público, tanto por sua entrada gradual no cânone literário a partir da biografia de Ruy Castro, dos anos 1990, quanto por seus dramas provocativos. Mas aí fica mais difícil entender o não-Bukowski. "Não descobri a fórmula contínua que equilibre sucesso de público com refinamento de linguagem", completa Bueno.
Para a atriz e diretora Nena Inoue, com mais de 40 anos de carreira, é preciso considerar outros fatores. "Certas montagens são mais adequadas a certos teatros. Muitas vezes o que fica bom no Novelas Curitibanas não encaixa tão bem no Guairão", alega.
Sim, zumbis
Etnografia dos públicos e uma pergunta
Em A Paixão Musical, Antoine Hennion alega que os públicos são ativos produtores de sentidos. "Se o gosto é uma atividade reflexiva (embora não necessariamente calculada e instrumental), importa conhecer os meandros dessa fabricação/experimentação". O diretor Paulo Biscaia Filho relembra seu maior sucesso, Morgue Story, que completa dez anos de sua estreia. "Foi a coisa mais empolgante e sofisticada que havia montado até então. Ali o público disse-nos: Sim, gostamos de zumbis, um fenômeno que se confirmou nos anos seguintes", afirma.
António Firmino da Costa, em Dos Públicos da Cultura aos Modos de Relação com a Cultura: Algumas Questões Teóricas Para uma Agenda de Investigação, estuda o que a arte e a cultura representam como instituições, mas sem esquecer o indivíduo. Ou seja, nada é simples. É como diz Brecht em Elogio do Aprendizado: "Tira a prova da conta: / é você quem irá pagar./ Aponta o dedo sobre cada item,/ pergunta: como foi parar aí?"
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