Quase nada mais faz sentido

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Um amor incapaz de ter continuidade, assunto recorrente na literatura e na arte de modo geral, é o tema de Um Grito de Amor do Centro do Mundo, romance do escritor japonês Kyoichi Ka­­tayama. A obra, publicada originalmente em 2001, teve mais de 3,5 milhões de exemplares vendidos no Japão. E esse sucesso se deve, em alguma medida, ao enredo.

O pequeno Sakutarô conhece a pequena Aki. Eles moram perto um do outro, ambos estudam na mesma escola e, durante o transcorrer dos dias, um se apaixona pelo outro. O plano dos dois incluía casamento e todos os seus desdobramentos. Afinal, pondera Sakutarô, o narrador: "A nossa vida se torna longa e entediante quando estamos sós. Mas, quando a compartilhamos com alguém, num piscar de olhos estamos na bifurcação entre a vida e a morte."

Aki vai crescer, mas ela adoece e morre. E, a partir disso, a existência de Sakutarô praticamente não terá mais sentido. "Aos meus olhos tudo era diferente, exótico e novo. Isso porque Aki também via através de meus olhos. Mas agora, por mais que eu veja algo, seja lá o que for, não sinto mais nada. Afinal, o que será que ainda tenho que ver aqui? Este é o significado da ausência de Aki. De não tê-la mais comigo. Não tenho mais nada para ver: seja na Austrália, no Alasca, no Mediterrâneo ou mesmo na zona glacial antártica."

O romance mostra como um sujeito pode enfrentrar a vida a partir do momento em que o seu grande projeto existencial desaparece. Tudo, absolutamente tudo, se revela irrelevante depois da perda. "Viver era como repertir, dia após dia, um ciclo de suicídio e ressurreição da alma. À noite, antes de dormir, pedia para que eu não despertasse mais nesse mundo", diz o protagonista e narrador.

Um Grito de Amor do Centro do Mundo faz ver que é aquilo que chamam de amor que move, mais do que qualquer outro fator ou sentimento, o ser humano, e o autor consegue dizer isso, direta e indiretamente por meio da ficção, sem esbarrar no pieguismo. GGG

Serviço: Um Grito de Amor do Centro do Mundo, de Kyoichi Katayama. Alfaguara, 156 págs., R$ 28,90. Romance.