Gente que fala alto, gesticulando com as mãos e atropelando as vozes de quem quer que seja. Gente que não tem medo de demonstrar suas emoções, que grita, chora e se beija em público. Gente que come bem, com a família reunida à mesa vigiada por um quadro da Santa Ceia. Essas possivelmente são as primeiras coisas que vêm à cabeça ao pensarmos no povo italiano e seus descendentes, espalhados pelo mundo ao longo dos anos. Conjunto de hábitos que deram origem à simpática expressão tutti buona gente (na tradução, "todos gente boa"), ostentada com orgulho há séculos.
O estereótipo do povo alegre e bonachão prevalece mesmo quando o foco é o aspecto mais negativo atribuído aos italianos e conhecido em todo o planeta: a máfia, o crime e a violência. Da trilogia O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, às seis temporadas da série dramática Família Soprano, a violência, nesse caso, sempre vem atrelada a motivos nobres, como lealdade ao nome da família e seus membros, por mais distante que seja o parentesco.
Talvez por isso mesmo o reality show Jersey Shore, cuja primeira temporada está exibição na MTV brasileira, tenha causado tanta controvérsia lá fora. Produzida pela matriz norte-americana, a série que retrata as férias de oito jovens ítalo-americanos em uma casa de praia, durante o bombado verão de Nova Jersey, costa leste dos Estados Unidos, chegou a acumular quase 5 milhões de espectadores em frente à tevê em seu capítulo final. Grande parte detestou o que viu, mas, de tão perplexa continuou assistindo.
Protagonizado por quatro homens e quatro mulheres, de 22 a 29 anos, que se encaixam no estereótipo de "Guidos" e "Guidettes", respectivamente termo usado para descrever ítalo-americanos que adoram festas intermináveis, sexo, álcool, correntes de ouro, pele bronzeada, corpo malhado, vestidos provocantes e muito gel no cabelo o reality foi tachado de racista e discriminatório ao explorar o apelido, considerado pejorativo entre a comunidade italiana. Organizações de serviço aos ítalo-americanos chegaram a pressionar alguns dos patrocinadores do programa a retirar seus apoios, apelo atendido por algumas empresas, entre elas, Dominos Pizza, American Family Insurance e Dell, logo após a exibição do episódio de estreia.
Mas, para Angelina, JWoww, Nicole, Sammi, Mike, Paul D, Ronnie e Vinny, a polêmica não passa de exagero. Afinal de contas, eles são os primeiros a se autoproclamar "Guidettes" e "Guidos". Angelina por exemplo, chega à casa de praia dizendo ser a Kim Kardashian de Staten Island, devido à sua vantajosa e "natural" retaguarda. Subgerente de uma academia, Mike, 27 anos, tem o apelido de "The Situation" (a situação), pois tem como hábito levantar a camiseta e mostrar o "tanquinho" adquirido com muita malhação, ação sempre acompanhada da exclamação: "Heres the situation" (na tradução, algo como "a situação é essa"). Já o DJ Paul, 28, se orgulha de possuir uma cama de bronzeamento artificial em sua casa e de gastar pelo menos 25 minutos por dia arrumando o cabelo. Enquanto que Vinny Guadagnino, único do grupo que estuda em uma universidade, tem como principal característica o fato de ser um um filhinho da mamãe (ou melhor, da mamma) assumido.
Nenhum deles gosta de trabalhar e o que mais curtem é sair para a balada para azarar e arrumar confusão. Nicole, por exemplo, chegou a levar um murro de um professor de educação física que roubou seu drink em uma boate e um deles chega a passar uma noite na cadeia por agressão, em um dos capítulos que ainda não foram ao ar. Fora isso, trocam de parceiros sexuais como mudam de roupa e não demonstram um pingo de lealdade a quem quer que se seja. Mais perturbador que engraçado, Jersey Shore é capaz de fazer a nonna queimar o spaghetti. Mamma mia!
Serviço: O reality show Jersey Shore vai ao ar na MTV, nas madrugadas de sexta-feira para sábado, às 0h30. Reprises aos sábados, às 23 horas e nas madrugadas de segunda para terça-feira, às 1h30.Os episódios podem ser assistidos na íntegra no site www.mtv.com.br/jerseyshore