Representantes da classe artística do paraná, ouvidos pelo Caderno G, foram unânimes ao afirmar que durante os três anos e meio de gestão, o atual governo do do Paraná não foi capaz de criar uma política específica para a cultura. A falta de reflexão para consolidar linhas de ação permanentes parece ser uma herança transmitida de uma administração para outra ao longo da história política do estado.
"É o mal de 95% dos políticos. Não se desenvolve uma política, mas ações culturais", opina o diretor teatral e cineasta Paulo Biscaia Filho. O diretor refere-se às iniciativas "pontuais", ou seja, que não têm continuidade ou não estão inseridas dentro de um projeto mais amplo e a longo prazo. Algumas delas são louváveis, mas incapazes de dar conta, por si só, da excessiva demanda existente na área de cultura. As artes cênicas, para citar um exemplo, foram presenteadas nesta gestão com a reativação do Teatro de Comédia do Paraná TCP e a criação do Novas Leituras Ciclo de Dramaturgia, sob a responsabilidade do Teatro Guaíra. "São ações que formam público, revelam novos dramaturgos e criam interesse na população em geral. Por outro lado, sinto falta de mais comprometimento", diz o diretor teatral Márcio Abreu. A reclamação geral da classe cênica refere-se à falta de apoio às companhias de teatro. O Estado, na opinião dos diretores, revela-se omisso e até mesmo ingênuo ao não apoiar grupos que produzam um trabalho de ponta, reconhecido como referência no Brasil e no exterior.
A atuação da Secretaria de Estado da Cultura SEEC também esbarra em uma velha questão que atravanca a produção cultural de todo o país: a falta de orçamento destinado à cultura. Para a crítica e historiadora de arte Marília Cecília Noronha, o governo fez um esforço considerável dentro das limitações impostas pela administração estadual. "O que é possível fazer com esse mínimo de orçamento? Nada", indaga. Na opinião da maioria dos entrevistados, é possível contornar a questão com a adoção ou o resgate de alternativas de financiamento como a Conta Cultura, extinta nesta gestão e que relocava recursos de empresas estatais para apoiar projetos aprovados pela Lei Rouanet (ler entrevista com a Secretária, Vera Haj Mussi), e a implantação da Lei de Incentivo à Cultura em nível estadual, que está em pauta há algum tempo, mas ainda não aconteceu.
O pianista Álvaro Siviero oferece uma sugestão criativa para driblar a falta de recursos: a "comunhão de orçamento" entre as secretarias de cultura e educação, por meio de projetos conjuntos. Essa visão interdiscilpinar é compartilhada com o galerista Marco Mello. "Precisamos de uma gestão com ciência e visão do que é cultura em um mundo globalizado e o papel que ela pode desempenhar na economia, na educação, no turismo e outras esferas da sociedade, para o bem ou para o mal. Do jeito que é tratada hoje, ela não tem qualquer importância", opina.
A insatisfação pela falta de um "centro pensante" que faça a ligação entre as diversas iniciativas geridas pela SEEC-PR e de uma interação mais orgânica entre os diversos setores de governo não impede o otimismo da maioria dos entrevistados. Ações como a implantação de bibliotecas no interior do Estado e a criação do Prêmio Estadual de Cinema e Vídeo (que, pela primeira vez, apoia a realização de longas-metragens estaduais) são apontados como investimentos de resultados duradouros que, espera-se, sejam mantidos, a despeito do resultado das eleições. "Não queremos políticas de governo, mas políticas culturais que extrapolem o próprio governo", afirma Biscaia.
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