O destino pode ser irônico, cheio de truques. Logo após assumir a presidência de maneira definitiva, entre a crise política e econômica que assolavam o país, a primeira grande crise que Michel Temer precisou enfrentar foi no minúsculo Ministério da Cultura.
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Ao rebaixar seu status para o de Secretaria, provocou uma reação em cadeia de artistas do Brasil inteiro, que criticaram virulentamente a decisão. Para piorar, grupos aproveitaram para ocupar órgãos públicos com a intenção de deixá-los apenas quando o MinC recuperasse sua condição original.
Calero nega que solicitou audiência para gravar Temer
Leia a matéria completaAntes disso, Temer já havia se debatido ao escolher quem comandaria a pasta. Acusado de promover pouca diversidade em seu ministério, quis diminuir as críticas convidando uma mulher para a Cultura. Após todas as candidatas recusarem a oferta, o escolhido foi o carioca Marcelo Calero, 33 anos.
Se existisse uma máquina do tempo, Temer faria de tudo para voltar para o momento em que chamou Calero para o seu governo.
Talvez tenha menosprezado a ambição do jovem ministro, ao pensar que seria possível relegá-lo ao posto de figura decorativa no MinC. Calero sempre foi conhecido como um prodígio. Advogado e diplomata, antes de chegar ao ministério passou pela Secretaria de Cultura do Rio, pela Comissão de Valores Monetários (CVM), ligada ao Ministério da Fazenda, pela Petrobras e pela embaixada do Brasil no México em 2007.
Na Secretaria de Cultura do Rio teve uma atuação bastante elogiada pelo então prefeito Eduardo Paes e também pelos artistas locais. “Ele fez um trabalho de excelência. Além da seriedade como gestor, que foi ímpar, demonstrou ser um cara muito aberto ao diálogo. Um jovem muito conciliador, até por ter formação no Itamaraty. Sabe não só falar, mas ouvir. O nome do Calero passa confiança”, afirmou Eduardo Barata, presidente da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro, quando ele assumiu o MinC.
“Ele é um diplomata. Tem um perfil muito mais palatável. É um cara que estuda muito, alguém bastante inteligente e que sabe fazer o jogo político”, disse Rodrigo Bouillet, cineclubista e membro do Conselho Estadual de Política Cultural do Rio de Janeiro, à Gazeta do Povo, na mesma época.
É este jogo político que Temer esqueceu que seu subordinado era capaz de fazer. Candidato a deputado estadual pelo PSDB em 2010, Calero mudou rapidinho para o PMDB quando entrou para a turma de Eduardo Paes, que lhe deu condições de fazer um trabalho de visibilidade na administração municipal.
Sem a mesma oportunidade na administração federal, e confrontado com um caso de corrupção claro, ao ser pressionado pelo ministro da Secretaria Geral de Governo, Geddel Vieira Lima para liberar um empreendimento imobiliário em Salvador, ele usou de sua inteligência e astúcia política para sair do cargo por cima. Supostamente gravou a conversa com Michel Temer, a qual mostraria que o presidente o pressionou a ajudar Geddel.
Caso as gravações sejam confirmadas, Temer pode até ser afastado da presidência, da mesma forma que Dilma Rousseff. Temer talvez coloque a culpa de sua má sorte no destino, mas o verdadeiro motivo será bem mais terreno: a corrupção comum e o patrimonialismo que ainda imperam na política nacional.
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