Parece até um episódio de Família Soprano. Enquanto Júlio César, general de nobre família romana, conquista territórios na região bárbara da Gália (atual França), Pompeu, seu genro e, supostamente, melhor amigo, conspira para que, ao retornar a Roma, o militar seja considerado um traidor. Quer ver o futuro imperador pelas costas, por saber que, pouco a pouco, os feitos bélicos de César o colocam no topo da preferência popular, tirando-lhe o lugar que julga ser seu de direito.
Ambição, mesquinharia, intrigas, violência e muito sexo ingredientes que poderiam muito bem temperar uma trama televisiva sobre a Brasília (ou Washington D.C.) dos tempos atuais são elementos indispensáveis a Roma, sériado co-produzido pela HBO que estréia no próximo domingo, dia 9, às 22 horas, na programação do canal de TV paga. Com um orçamento de US$ 100 milhões, trata-se da segunda produção televisiva mais cara da história, perdendo apenas para a minissérie Band of Brothers, também exibida pela HBO e co-produzida por Steven Spielberg, orçada em US$ 120 milhões.
A proposta de Roma é muito ambiciosa: em 12 capítulos, a série pretende descrever o processo de queda da República e ascensão do Império. A ação se desenvolve entre 52 a.C. e 44 a.C, quando Júlio César, primeiro imperador romano, é assassinado às portas do Senado por Marcus Junius Brutus, afilhado por quem nutria um afeto quase paternal.
Engana-se, entretanto, quem pensa tratar-se de uma produção cujo foco principal é a história política de Roma, suas intrigas palacianas e os bastidores do poder. Todos esses elementos, logicamente, estão presentes e têm sua importância na trama. A proposta da série não é dar aula de História pelos métodos mais convencionais. Com um paladar muito contemporâneo e pós-moderno, a série, cuja segunda temporada já foi encomendada, tem seu foco na vida privada dos romanos, tentando aproximá-los o máximo possível dos dias de hoje.
Personagens
Embora tenha proporções épicas é possível enxergar na tela cada centavo dos US$ 100 milhões investidos , Roma inova na medida em que proporciona ao espectador uma visão interna da cidade mais importante da Antiguidade. Foram reconstituídos nos lendários estúdios da Cinecittà, complexo cinematográfico e televisivo da capital italiana, desde o Fórum Romano e o Templo de Jupiter até os becos imundos habitados pelos plebeus, passando pelas luxuosas vilas dos patrícios, os nobres que compunham a classe dominante à época.
A sensação, em alguns momentos, é de estar em uma cidade contemporânea, caótica, barulhenta e, ao mesmo tempo, gloriosa e miserável. Essa aproximação é proposital, uma vez que a proposta da série não é de enfocar a civilização romana como algo distante e mitificado. Para isso, além da concepção visual, foi dada especial atenção à elaboração dos personagens, com o propósito de que nenhum deles seja, a exemplo dos protagonistas de filmes recentes, como Tróia e Alexandre, desprovido das vicissitudes, falhas e contradições inerentes à condição humana em qualquer tempo.
E é justamente por conta dessa concepção que os dois protagonistas da série não pertencem ao universo dos livros de História. O centurião Lúcio Voreno (Kevin McKidd, de Cruzada) é um militar rígido e fiel seguidor dos princípios da República que, depois de sete anos acompanhando o exército de Júlio César, retorna a Roma e reencontra sua mulher Niobe (Indira Varma, de Kama Sutra) mergulhada em ressentimentos pelo abandono amargado ao longo do período em que esteve nos campos de batalha, em um tempo sem internet e telefone. O outro personagem centras de Roma é o soldado Tito Pullo (Ray Stevenson, de Rei Arthur), um tipo fanfarrão e algo cafajeste que serve de contraponto para o estoicismo de Lúcio, seu superior. Para ele, pouco importa a glória de Roma. Prefere o vinho e as mulheres.
A dupla ganha evidência junto a Júlio César (Ciaràn Hins, de Estrada para Perdição), já no primeiro episódio (dirigido por Michael Apted, de A Montanha dos Gorilas), ao salvar Octaviano (que se tornará o imperador Augusto), sobrinho neto do futuro imperador, sequestrado pelas tropas bárbaras, e por conseguir resgatar o estandarte de ouro em formato de águia (símbolo do exército romano), roubado em uma maquinação orquestrada por Pompeu, para minar a liderança de César.
Mas não é apenas entre soldados e plebeus que os instintos mundanos se menifestam. A classe dominante dos patrícios é retratada como um verdadeiro ninho de cobras. Nesse universo, o personagem mais fascinante é, certamente, Átia (Polly Walker, de Restauração e Emma), a sobrinha manipuladora e interesseira de César, que não mede esforços para se manter sempre nos círculos mais restritos do poder, nem que para isso tenha de lançar mão da felicidade da filha como moeda de troca. Bela e sedutora, Átia usa descaradamente o sexo como arma. Tanto que, entre seus inúmeros amantes, está Marco Antônio (James Pruferoy, de Coração de Cavaleiro), aliado de César e escolhido pelo general para ser tribuno (representante dos plebeus) no Senado romano.
Com exbição prevista sempre para os domingos na HBO, às 22 horas, Roma deve ser um os dos fortes candidatos ao Globo de Ouro (prêmio da imprensa estrangeira em Hollywood) e Emmy (Oscar da tevê americana) em 2006. E com todo merecimento.
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