Serviço
A Cabra ou Quem É Sylvia
Quando: Dias 23 e 24 de março, às 21h
Quanto: R$ 40. Estudantes e pessoas maiores de 60 anos pagam meia-entrada
Onde: Grande Auditório do Teatro Guaíra (Pça. Santos Andrade, s/n.º). Dias 23 e 24 de março, às 21 horas. Ingressos a R$ 40 e R$ 20.
Gripado e um tanto rouco. Assim José Wilker inicia sua conversa, por telefone, com a reportagem da Gazeta do Povo sobre A Cabra ou Quem É Sylvia, espetáculo que estreia segunda-feira (23) na Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba. Aos poucos, sua voz inconfundível, apesar da rouquidão ganha volume. E entusiasmo. Efeito, talvez, da indisfarçável admiração que o ator diz nutrir pelo dono do texto, o dramaturgo norte-americano Edward Albee, pilar do teatro contemporâneo.
Classificada como comédia, A Cabra ou Quem É Sylvia pode confundir o espectador incauto com sua sinopse. Wilker vive o papel de Martin, um arquiteto bem-sucedido e aparentemente feliz no casamento com Stella (Denise Del Vecchio). Pelo menos é o que ele pensa da própria vida até se descobrir apaixonado por Sylvia durante uma viagem ao interior. Não se trata, contudo, de uma outra mulher: é uma cabra.
O absurdo representado por esse bizarro triângulo amoroso serve de pretexto para situações cômicas, como não poderia deixar de ser. Mas a discussão se revela bem mais complexa do que aparenta.
"Hospitalar"
Wilker conheceu o texto de Albee quando assistiu à peça em 2002, na Broadway, distrito teatral de Nova Iorque. Estrelada por Bill Pullman (de A Estrada Perdida) e Mercedes Ruehl (vencedora do Oscar de coadjuvante por Pescador de Ilusões), a montagem não chegou a impressionar o ator brasileiro. "Achei fria, hospitalar." O que mexeu com Wilker foi a inquestionável qualidade dramatúrgica da obra.
"A peça foi uma reação de Albee à recepção violenta que teve um artigo de Susan Sontag (escritora e ensaísta norte-americana, morta em 2004) sobre o 11 de Setembro em que ela dizia que os terroristas responsáveis pelos atentados ao World Trade Center eram tudo menos covardes", conta o ator, A reação virulenta de vários setores às palavras de Sontag evidenciou a Albee o que talvez ele já soubesse, mas em nível inconsciente: o quão intolerantes os norte-americanos podem ser quando seus interesses, valores e ideologia são postos em xeque.
Essa indignação e dificuldade em aceitar a dissonância, o outro, se manifestam, quase sempre, por meio de medidas extremas, como guerras, invasões e violência. E é isso que Albee (leia sobre o escritor em quadro nesta página), autor de clássicos como Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, pretende discutir em A Cabra ou Quem É Sylvia.
"Assim que vi a montagem com Pullman, quis montar o texto. Iria fazer a peça com a Marília Pêra, mas as dificuldades de calendário impediram", diz Wilker, que só viu o projeto sair do papel quando Jô Soares entrou em cena. O comediante e apresentador aceitou o desafio de traduzir e dirigir o obra.
Para Wilker, a grande diferença entre as montagens brasileira e norte-americana está tanto na capacidade de Jô de perceber as imensas cargas de humor e crítica presentes no texto de A Cabra ou Quem É Sylvia quanto na sua capacidade envolver o elenco no projeto. "Há uma entrega muito maior. Acabamos fazendo o que ele quer, mas nos sentindo também um pouco autores."
Embora tivesse sido seduzido pelo alto teor cáustico dos diálogos de Albee ao dissecar o relcionamento de Martin com Stella, pautado pelo comodismo, e de seu filho Billy (Gustavo Machado) e um amigo escolhido como confidente, Ross (Norival Rizzo), Wilker não havia ficado satisfeito com o estilo contido e cirúrgico da direção do norte-americano David Esbjornson.
A Cabra ou Quem É Sylvia está em cartaz no Teatro dos Quatro no Rio de Janeiro e a resposta do público, que vem lotando todas as sessões, é surpreendente. Como a plateia carioca costuma ser mais afeita a espetáculos comerciais, de entretenimento, e menos ousados do ponto de vista dramatúrgico, Wilker temia que a peça não encontrasse ressonância na Cidade Maravilhosa. Enganou-se. Vamos ver como será a reação em Curitiba.
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