A estreia não poderia ter sido mais generosa. Em sua primeira apresentação no Brasil, nesta sexta (20) na praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, o Radiohead tocou músicas de toda a carreira por mais de duas horas para cerca de 24 mil pessoas, segundo a organização. Como se a catarse coletiva não bastasse, o quinteto inglês encerrou a noite, depois do segundo bis, com o megassucesso "Creep", que só apareceu recentemente em um show da banda na Cidade do México.
Antes mesmo que subissem ao palco, o aviso exibido nos telões o grupo pedia que não se usassem flashes nem câmeras fotográficas durante o espetáculo foi solenemente ignorado. Assim que Thom Yorke (vocais, guitarra, piano), Jonny Greenwood (guitarra), Ed O'Brien (guitarra), Colin Greenwood (baixo, sintetizador) e Phil Selway (bateria, percussão) surgiram, batendo palmas, ao som de "15 step", todos os celulares já estavam apontados. "Boa noite, nós somos o Radiohead", anunciou o vocalista, em português
O repertório mesclou faixas do mais novo trabalho da banda, "In rainbows" (2007), com canções mais antigas, a exemplo de "Airbag", e "Karma police", do clássico "Ok computer"(1997); "The national anthem", do disco "Kid A" (2000); ou "There there", de "Hail to the thief" (2003), só para citar a primeira metade do show. Ao vivo, aliás, o grupo deixou claro o motivo pelo qual era (e ainda é, já que a apresentação dos ingleses em São Paulo é neste domingo, 22) uma das atrações mais aguardadas por aqui.
Do alto de seus sete álbuns e mais de 15 anos de carreira, contando a partir de "Pablo honey"(1993), o Radiohead construiu uma personalidade sofisiticada o suficiente para agradar aos ouvidos mais diversos. Tanto a fase roqueira, com guitarras em primeiro plano, quanto a mais experimental, repleta de efeitos eletrônicos, soam perfeitamente coesas durante o show. Vale ressaltar, ainda, a fidelidade dos músicos às versões de estúdio. Enquanto isso, os telões e a iluminação do palco dão ao espetáculo uma atmosfera cinematográfica.
E, se por um lado a apresentação sugere um clima mais contemplativo, por outro a atitude no palco não é nada fria. Thom Yorke pode não ter o carisma de um Bono ou de um Michael Stipe, mas sabe comandar a plateia à sua maneira, seja tocando diferentes instrumentos, dando pulos ou fazendo dancinhas à parte o fato de que ele dá a cada faixa uma interpretação ímpar.
Seguem-se mais músicas do disco novo - "All I need", "Nude", "Weird fishes/Arpeggi", "Faust arp", "Jigsaw falling into place"-, além de "No surprises", "I might be wrong", "Street spirit (fade out)", "How to disappear completely", "Paranoid android", "Everything in its right place", entre outras, antes que Thom Yorke se pronuncie, em um dos raros momentos em que conversa com o público. "Esta é por todas as vezes que a América do Norte tentou f com vocês", mandou o vocalista, ao começar o segundo bis com "You and whose army?", de "Amnesiac" (2001).
Veteranos do Kraftwerk dão show de interação audiovisual
Depois do Los Hermanos e antes do Radiohead, o Kraftwerk deu um verdadeiro show de interação audiovisual. Os alemães fizeram uma apresentação de cerca de uma hora enquanto a Praça da Apoteose ia lotando. Sorte de quem parou para prestar atenção aos veteranos que, praticamente estáticos na frente de quatro laptops, mostraram à juventude de onde vêm a música eletrônica e o rap.
"The man-machine", de 1978, foi escolhida para abrir o show. Beats e vocais hipnóticos ganham a companhia das imagens projetadas em um telão atrás do quarteto e dois nas laterais do palco.
A fascinação pelos meios de transporte leva o público por uma viagem de bike, carros e trens, como em "Tour de France", "Autobahn" e "Trans-Europe Express". Um dos pontos altos acontece ao som de "The robots", quando quatro robôs literalmente assumem o controle. Como da última vez que passaram pelo Brasil, em 2004, os alemães encerraram a apresentação ao som de "Music non stop", deixando o gostinho de que o show pode acabar, mas a música nunca para.
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