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Exatos três anos, cinco meses e 17 dias depois do primeiro fotograma exposto no início das filmagens, Gaijin – Ama-Me como Sou estréia nos cinemas brasileiros. Também chamado de Gaijin 2, o filme não depende de seu antecessor, Gaijin – Caminhos de Liberdade (1980), que marcou a estréia da diretora Tizuka Yamasaki – e é, talvez, seu trabalho mais respeitado.

Conhecida por dirigir os filmes estrelados por Xuxa (Lua de Cristal, Popstar e Xuxa Requebra) e Renato Aragão (O Noviço Rebelde), Yamasaki retoma a saga de Titoe Yamada, japonesa que veio ao Brasil no início do século passado em busca de fortuna. Desta vez, o roteiro – também de autoria da cineasta porto-alegrense –, ocupa-se de retratar quatro gerações da família.

No Festival de Cinema de Gramado deste ano, a produção milionária (custou R$ 10,5 milhões), financiada por meio de leis de incentivo à cultura, saiu com os prêmios de melhor filme, direção, atriz coadjuvante e música. A atriz em questão é uma senhora de 77 anos, londrinense e feirante. Aya Ono estava disposta a ser figurante de Ama-Me como Sou. Quando aguardava a hora de filmar, foi descoberta pelo diretor assistente Hsu Chien Hsin, que a levou para fazer um teste.

Tizuka conta que a Titoe em idade avançada foi um dos papéis mais difíceis de preencher. Depois de procurar no Brasil e nos EUA, ela tentou ainda o Japão. Lá, encontrou a atriz que queria, mas não conseguiu trazê-la ao país – nenhuma senhora com mais de 70 anos se dispôs a encarar as mais 20 horas de vôo necessárias.

A diretora cogitou falar com o nonagenário bailarino Kazuo Ono, que já havia interpretado papéis femininos. Mas ele sofreu um derrame. Aya Ono fez o teste, convenceu e ganhou o papel. Sua participação no filme é singela e tem poucas falas, mas, para uma estréia tardia, ela demonstra desenvoltura.

A trilha sonora original do filme, igualmente premiada, foi composta por Egberto Gismonti. Nesse quesito, Gaijin 2 tem uma característica peculiar. Embora fale da imigração japonesa no Brasil, a canção-tema, "Amame como Soy", composta pelo cubano Pablo Milanés, é cantada em espanhol por Gal Costa, acompanhada do compositor. O que uma coisa (imigração japonesa) tem a ver com a outra (música em espanhol)? Tizuka coloca culpa em Gismonti.

Os prêmios em Gramado causaram polêmica em meio à imprensa especializada. Vários críticos acharam a escolha injusta e descabida. Tizuka considerou tal recepção "amarga". Para os padrões brasileiros, Ama-Me como Sou pode ser considerado uma superprodução.

A primeira hora de projeção – quase toda em japonês e legendada ao português – mostra a vinda de Titoe ao Brasil em 1908, aos 16 anos, e sua chegada à região de Londrina, no norte do Paraná, exatamente quando os ingleses estabeleciam a "pequena Londres", processo iniciado em 1904 – a fundação do município seria 30 anos mais tarde. Depois de trabalhar e guardar dinheiro, ela percebe que não tem o suficiente para voltar ao Japão, decide comprar um terreno e montar sua casa.

Enquanto se ocupa da vida pobre da família Yamada em um vilarejo japonês e de Titoe nos seus primeiros anos de Brasil – até o casamento de sua filha Shinobu e o nascimento da neta Maria –, Gaijin 2 vai bem. À medida em que Maria (Tomlyn Tomita) se interessa por Gabriel (Jorge Perugorría), filho do cafeicultor espanhol Ramon Salinas (Luis Melo), o filme desanda.

Perugorría é cubano e Tomlyn Tomita é japonesa radicada nos EUA. Ambos não falam português, mas decoraram suas falas na língua de Machado de Assis – tiveram até treinadores para ajudar na tarefa. Ainda assim, ambos tiveram de ser dublados porque seus sotaques eram muito carregados. O resultado padece do "efeito novela mexicana" (daquelas exibidas pelo SBT), em que o movimento dos lábios não casa com o que se ouve. GG

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