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Parte do acervo de 4 mil LPs está exposto no sebo Figaro, em Curitiba: grupos de jazz de vários gêneros e artistas ingleses se destacam | Priscila Forone/ Gazeta do Povo
Parte do acervo de 4 mil LPs está exposto no sebo Figaro, em Curitiba: grupos de jazz de vários gêneros e artistas ingleses se destacam| Foto: Priscila Forone/ Gazeta do Povo

É na Rua Lamenha Lins, entre a Dr. Pedrosa e a Emiliano Perneta, que agora se escondem The Platters, The Mills Brothers e Bing Crosby. Os artistas vieram de Brasília no último dia 19 em grandes e bem-protegidas caixas, e se expõem aos curitibanos em busca de algum colecionador, aficionado ou amante de música.

Depois de uma viagem de 1.366 quilômetros no baú de um caminhão, cerca de 4 mil LPs de música norte-americana e inglesa das décadas de 1930, 1940 e 1950 – quase a totalidade em excelente estado – agora estão nas prateleiras dos sebos Fígaro e Trovatore, ambos tocados por Paulo José da Costa. O melômano e colecionador adquiriu os vinis de um amigo pessoal, que mora na capital federal e não quer ter seu nome divulgado. "É a coleção de uma vida inteira", diz Costa.

Mississippi Valley Ragtime – focado no ragtime, um dos primeiros gêneros de jazz –, um disco do trombonista Glenn Miller com a banda do exército norte-americano e um álbum do "rei do swing" Benny Goodman gravado durante um programa de rádio são outras das raridades encontradas no acervo, distribuído entre os dois sebos. "Esses vinis refletem uma época mágica da música", conta o proprietário, pai da cantora lírica Marília Vargas.

Misturar trabalho com paixão é um problema a ser evitado pelo empresário. Mas seis discos saíram do caminhão em que vieram e foram direto para a casa de Costa, fazer companhia a mais 7 mil vinis, sua coleção pessoal. Dois são lembrados na hora: um exemplar de Ray Noble, arranjador, compositor e ator inglês; e um vinil de Albert Allick "Al" Bowlly, crooner de jazz britânico popular nas décadas de 1930 e 1940. "Não tive tempo de verificar um por um, mas esses eu não vou colocar à venda", explica.

Os discos têm preço médio de R$ 25.

Alguns, mais raros, são vendidos a R$ 40 e uma portentosa caixa com 20 discos de Glenn Miller sai por R$ 120. "Tenho de levar em conta o estado do disco, a gravadora, a relevância e a qualidade da prensagem. Mas não tenho pressa. Essa coleção vai ser vendida lentamente e garanto que vou fazer amigos enquanto discuto sobre os discos", diz. "Se fosse uma coleção de rock, já teria vendido tudo", brinca Costa, que se acha "meio quadrado" e só destaca Beatles e Pink Floyd neste gênero.

Mercado

Ainda vale a pena comercializar discos em vinil? Segundo Paulo José da Costa, o mercado continua quente. Já há, por exemplo, um colecionador de São Paulo interessado em adquirir parte do recém-chegado acervo. "O aficionado procura a raridade. E o suporte ainda vale a pena. O vinil é durável, tem uma qualidade superior de som e tem o seu próprio charme", comenta. Quem concorda é o italiano Vicenzo Cortese, morador de Curitiba há sete anos. O músico foi abordado pela reportagem enquanto virava do lado A para o lado B o disco do pianista Arturo Michelangeli. "Perdemos a qualidade nas gravações no decorrer do tempo. Hoje temos muita praticidade para ‘carregar’ música, mas também total ausência de harmonias agudas, além de graves inexistentes e médios velados", critica o italiano.

Sem naftalina

A gravadora carioca Deckdisc finalizou o processo de compra da PolySom, última fábrica de vinis do Brasil a fechar suas portas, em outubro de 2007. Localizada no município de Belford Roxo, região metropolitana Rio de Janeiro, a empresa volta à ativa este ano. "A fábrica tem nove funcionários e está pronta para voltar a produzir. Já fizemos todos os cálculos e preparos. O que atrasa um pouco é a questão da carga tributária, que é muito alta", diz João Augusto, presidente da Deckdisc. Fernanda Takai (com Onde Brilhem os Olhos Seus), Nação Zumbi (Fome de Tudo), Ca­­­chorro Grande (Cinema) e Pitty (Chia­­­­roescuro) são os primeiros artistas a lançar seus discos em formato vinil pela gravadora.

"Já há muitos pedidos para a fábrica. Há vários selos nacionais e inclusive alguns da América do Sul interessados", explica Augusto.

Serviço

Figaro - Loja de Cultura: Rua Lamenha Lins, 62-A, (41) 3224 7795.

Trovatore: Largo da Ordem, 44, (41) 3223 7404.

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