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Antonio Cláudio Marcelino dos Santos, o Kambé, nasceu em Matão, interior de São Paulo, em 27 de outubro de 1950.
Em 1969, quando se mudou para Cambé, cidade próxima a Londrina, passou a se dedicar à arte, escolhendo o giz de cera como um de seus principais materiais, por ser mais barato e fácil de adquirir.
Nos anos 1970 e 1980, trabalhou como desenhista e chargista de jornais, como o Panorama, de Londrina; O Diário do Paraná, de Curitiba; a Folha de S. Paulo e a imprensa alternativa da capital paulista. Em 1978, devido às charges em que representava políticos importantes da época, teve que se refugiar com a família em Guaraqueçaba, no litoral paranaense.
Em 1985, mudou-se para Curitiba.
Dentre outras mostras, expôs em 1995, na Galeria Image, em Roma.
Kambé é um artista autêntico. Daqueles que não fazem concessões ao denunciar as injustiças sociais. Talvez por isso a trajetória artística desse paulista de Matão, criado na pequena Cambé (da qual incorporou o nome ao seu nome artístico), próxima a Londrina, seja malcompreendida em um estado no qual "a arte regionalista está misturada a uma ou outra proposta mais séria".
"Sempre fui verdadeiro e pago caro por isso, não tenho mercado, não tenho com quem trocar experiências", diz o artista, que volta à carga em trabalhos recentes que apresenta na exposição Mea Culpa, com abertura hoje no Espaço Cultural BRDE Palacete dos Leões.
Cláudio Cambé, que desde 1992 assina somente Kambé, chega aos 57 anos desiludido com a humanidade, causadora da própria destruição e da devastação do planeta e Kambé se inclui no rol dos culpados, daí o título da mostra, Mea Culpa. O consumismo descontrolado e inútil é um dos temas dessa nova fase do artista, a julgar pelos títulos dos três trabalhos inéditos que ele apresenta ao lado de outros de períodos anteriores: "Triturador de Corações", "Incubadora Humana" e "Peso da Inutilidade". São obras feitas com tinta acrílica sobre tela, que o artista produziu em Morretes, onde há algum tempo trabalha.
Esse estado de coisas é o que ele chama de "cegueira humana", em texto de apresentação da exposição. "Coloco em discussão o peso e o custo da inutilidade: a técnica avançada do concreto, do metal, do mineral, para a praga ou epidemia do consumismo desvairado", diz.
Pessimista realista
Na década de 1960, após um período em que foi perseguido pela ditadura militar, o artista resolveu trabalhar como ilustrador para sobreviver. Tornou-se colaborador de inúmeros veículos de comunicação, da Folha de São Paulo à imprensa alternativa. "A ilustração foi o começo de tudo. A preocupação com a questão social era forte. A denúncia sempre foi a base forte do meu trabalho", lembra.
Mas Kambé considera que perdeu muito tempo. "Primeiro, há o processo da ingenuidade. Depois, a gente percebe que foi enganado e, então, tenta recuperar uma verdade. Quando encontra, o tempo passou e já se está com outro tipo de maturidade." Para ele, a cartilha escrita por quem sonhou com um país melhor foi bem lida e decorada pelos políticos, que hoje faturam em cima da miséria humana.
Denunciar a "estupidez humana", é claro, não é prazeroso e pode tornar quem o faz persona non grata em certos círculos sociais. "Mas é que o sei fazer", diz Kambé. A problemática ambiental, manchete rotineira nos veículos de comunicação, pouco causa espanto. Kambé, que se define um pessimista realista, prevê que suas obras terão o mesmo destino cruel: a banalização. Mas pouco se importa. "Meu trabalho a partir de agora vai ser só relacionado a isso."
Serviço
Mea Culpa. Palacete dos Leões Espaço Cultural BRDE (Av. João Gualberto, 530/570 Alto da Glória), (41) 3219-8134. Trabalhos recentes de Kambé. Abertura, dia 15, às 19 horas. Horários de visitação: de segunda a sexta-feira, das 12h30 às 18h30. Até 14 de novembro.
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