Há uma semana, o Prêmio Shell de Teatro premiou três pessoas ligadas às artes cênicas no Paraná. Delas, duas foram laureadas pela edição paulista do evento: o iluminador curitibano Beto Bruel e o diretor de teatro "metade curitibano" Rodolfo García Vázquez. Na cerimônia carioca, realizada alguns dias antes, Paulo Moraes, da Cia. Armazém de Teatro, de Londrina, recebeu o louvor de melhor diretor pela montagem de Toda Nudez Será Castigada.

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Quando o Prêmio Shell teve sua primeira edição, em 1989, Rodolfo García Vázquez estava em Curitiba. Fundava, ao lado de Ivam Cabral, a Cia. de Teatro Os Satyros. A história de Vázquez é profundamente ligada à atuação do grupo, desde a estréia, em 1990, no Teatro Guaíra, da primeira montagem Sades ou Noites com os Professores Imorais. Seguiriam mais de 15 anos de colaboração intensa, que veria a abertura e o encerramento das atividades da equipe em Lisboa e a inauguração de uma sede de Os Satyros em São Paulo.

A história do braço paulista da companhia é a própria história da Praça Roosevelt, local em que a sede foi instalada. Virou peça de teatro em A Vida na Praça Roosevelt. Vázquez, que dirigiu o espetáculo e recebeu por ele o prêmio Shell – R$ 8 mil e uma concha em metal do artista plástico Domenico Calabroni – explica: "Era um ponto de tráfico de drogas, de prostituição, de encontro de travestis. Sentimos resistência por parte da imprensa e de intelectuais que raramente vinham ver o nosso trabalho aqui", comenta o dramaturgo.

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O trabalho persistente do grupo e "muitas negociações com traficantes" mudaram o quadro. "Hoje, a Praça Roosvelt tornou-se o lugar mais efervescente de teatro, reunindo os travestis, os traficantes e intelectuais nessa mistura única que formou um universo muito particular no imaginário do paulistano", afirma Vázquez. Tanto que a dramaturga alemã Dea Loher resolveu dedicar uma peça ao lugar, criando um painel de personagens a partir dos tipos que habitam a praça paulista. Montado na Alemanha, o espetáculo fez sucesso de público e crítica. Ano passado, ganhou a versão em português pelas mãos de Vázquez, gerando reações igualmente entusiasmadas. Apesar de paulista, o diretor teatral considera-se "metade curitibano". "Em Curitiba, passou-se grande parte da minha formação e atuação no teatro", relembra.

Luz

Para o curitibano (de nascimento) Beto Bruel, a premiação trouxe um louvor inédito. Em 2002, ele havia vencido a categoria de iluminação na edição carioca da premiação. Depois da cerimônia da terça passada, quando a edição paulista lhe concedeu o prêmio na mesma categoria, tornou-se o primeiro iluminador do país a conquistar as estatuetas nas duas praças. Em entrevista ao Caderno G, disse sentir-se grato pelo reconhecimento.

A peça pela qual levou o prêmio, Avenida Dropsie – da Sutil Cia. de Teatro, baseada nos quadrinhos Will Eisner, com direção de Felipe Hirsch – demandou esforço. O palco contava com cenários enormes, uma tela translúcida, e recebia mais de 6 mil litros de água para simular a chuva por cerca de 10 minutos. "Eu tinha que lidar com a tela, deixar o ator confortável, e fazer a chuva aparecer", descreve Bruel, que empregou perto de 300 refletores na montagem. O curioso é que o iluminador foi levado à profissão por acaso, em 1971, quando um grupo do Colégio Estadual do Paraná montou uma peça no Guairinha. "Foi quando perguntaram: ‘quem vai fazer a luz?’. Acabou ficando comigo até agora, 35 anos depois", conta.

Paulo Moraes não foi localizado para comentar seu prêmio antes do fechamento desta edição.

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