Reflexões sobre o abandono

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Depois de causar polêmicas e provocar reações surpreendentes nas plateias dos cinemas (por causa de uma cena de sexo gay), o longa-metragem nacional Praia do Futuro, do cineasta cearense Karim Aïnouz (também diretor de O Céu de Suely, de 2006), chega agora para os cinéfilos em DVD.

Protagonizado pelo baiano Wagner Moura, o filme se centra na história do salva-vidas Donato, um cearense típico que fala pouco, é envergonhado e não tem muito a dizer sobre ele mesmo. O personagem, que trabalha na praia que dá o título ao filme, é mais um elemento na intrigante paisagem, um dos lugares com a maior concentração de sal do mundo. Situação que faz com que nada na região dure por muito tempo.

Em um dia comum de trabalho, Donato conhece dois motociclistas alemães – um deles, companheiro de Konrad (Clemens Schick) se afoga das águas da praia, mesmo com o esforço do salva-vidas para resgatá-lo. Nesse turbilhão de acontecimentos e emoções, os dois acabam se aproximando, e surge uma paixão entre eles. O relacionamento levará Donato à Alemanha, de onde nunca retornará. Tempos depois, o irmão do salva-vidas, Ayrton (interpretado por Jesuíta Barbosa), vai ao país para saber do irmão o porquê de tantos anos de ausência.

Estereótipo

Foi essa trama amorosa que acabou dando, erroneamente, o estigma de "filme gay" para Praia do Futuro, antes mesmo de ele ser lançado nos cinemas. Em entrevistas, o diretor declarou que essa abordagem sequestrava o filme, e impedia leituras mais complexas e profundas. Na época do lançamento, alguns espectadores tiveram uma atitude conservadora ao ver cenas de sexo entre Donato e Konrad – muitas pessoas, inclusive, deixavam as salas de cinema antes de o filme terminar.

O longa teve um papel relevante dentro do movimento LGBT: tanto que foi laureado com o prêmio Sebastiane Latino, no Festival de Cinema de San Sebastián (Espanha), no último dia 20. A láurea foi criada pela associação de gays, lésbicas, transexuais e bissexuais do País Basco (Gehitu). Além disso, a produção ficou entre os indicados na última edição do Urso de Ouro – o grande premiado acabou sendo o filme chinês Bai Ri Yan Huo (Black Coal, Than Ice), do diretor Diao Yinan.

Praia do Futuro não é um melodrama típico, embora seja amarrado em cima de uma tragédia: foca no exílio emocional e existencial do protagonista. Além disso, o longa, que tem vários saltos narrativos, não se explica o tempo todo, deixando as conclusões para o espectador. GGGG