"Reflexos da Inocência" é um filme simples e delicado, que consegue emocionar mostrando como pode ser trágico o amadurecimento de um garoto numa cidadezinha litorânea, nos anos de 1970. Mas o maior chamariz do longa, que estreou nesta sexta-feira (22), fica sobrando na tela. Apesar de protagonista, o papel de Daniel Craig, famoso como James Bond - o espião a serviço da rainha da Inglaterra -, é sem graça.
Craig é Joe Scott, um ator rico, consumista, egocêntrico, que só pensa em sexo e drogas. Mas, como você pode imaginar, no fundo, ele é uma boa pessoa. Scott vê seu mundo ruir quando recebe a ligação de sua mãe avisando que alguém que havia sido importante em sua adolescência morreu. Em seguida, uma seqüência de reveses aponta que a maré não está para ele.
Aí começa o flashback ("Flashback of a fool" é o título original) e a parte mais interessante do filme. O diretor Baillie Walsh, responsável por alguns clipes de bandas como Massive Attack, mostra a vida do Joe adolescente (Harry Eden, uma graça), sob músicas e influência de David Bowie e Roxy Music, com uma fotografia bonita, e uma reconstrução de época que foge do clichê. Conhecemos sua primeira namorada, as amizades, a família e o motivo pelo qual ele perdeu a tal inocência da versão brasileira do título.
Além de todo o cuidado na reconstituição, o filme mostra o crescimento de um adolescente sendo realista e sem cair na pieguice. Os personagens que aparecem nessa época são adoráveis e, mesmo que a história vá em direção a uma tragédia anunciada, a trama emociona e, principalmente, angustia.
Em seguida, o filme volta para os dias atuais e fica novamente morno. O Scott mais velho decide voltar para a sua cidade natal, para o enterro do seu velho conhecido. Lá revê os amigos, paga suas penitências e faz sua revisão de vida, que culmina numa das cenas mais dramáticas do longa.
O problema de "Reflexos..." fica por conta da participação de Craig. Mesmo que sejam interligadas e façam sentido, a parte de 1970 é muito mais interessante que a história do ator famoso que se envolve em orgias. Fica parecendo que o filme estava pronto e alguém pediu a entrada do 007 apenas para atrair espectadores. Não chega a comprometer, e olha que Craig não é exatamente um bom ator, mas fica desproporcional.
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