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| Foto: Vicente de Paulo/Divulgação

Lançamento

Coração a Batucar

Maria Rita. Universal Music. Preço médio: 24,90 (CD) e US$ 11,99 (iTunes). Samba.

Maria Rita não quer ser identificada como sambista. Mas o que parecia ser apenas um romance de verão, no álbum Samba Meu, agora, sete anos mais tarde, dá pistas de ter evoluído para um relacionamento sério. Tanto que a cantora assumiu, em entrevista à Gazeta do Povo, concedida por telefone, estar irremediavelmente apaixonada pelo gênero musical. Embora faça questão de deixar claro que se trata de uma relação aberta, na qual cabem incursões por outros territórios musicais sem cobranças ou crises de ciúme. A não ser por parte de seus fãs. "Eu sei que alguns deles torcem o nariz para a minha escolha. Chegam a perguntar: ‘Quando vou voltar a cantar música de verdade?’. Mas não me sinto na obrigação de agradar a todos o tempo todo, não."

Coração a Batucar, novo disco de Maria Rita, que chega nesta semana às lojas e já está disponível no site iTunes, foi nascendo aos poucos. Não foi fruto de uma decisão pontual, tomada de uma só vez.

No ano passado, a cantora paulista, hoje radicada no Rio de Janeiro, para onde se mudou há sete anos, encerrava um ciclo dos mais significativos – e emocionalmente desafiadores – de sua vida: a turnê Redescobrir, primeiro batizada como Viva Elis, com o repertório de sua mãe, a grande Elis Regina (1945-1982). Inquieta, Maria Rita, hoje com 36 anos, começou a buscar um novo projeto que lhe fizesse o coração bater mais forte. E ouviu um batuque: era o tal do samba batendo à sua porta de novo.

"Apresentei o show de Samba Meu durante uns três anos e meio, quatro, antes de partir para o projeto de Redescobrir. As praças pediam um espetáculo novo, com outro repertório. Mas eu sentia, dentro de mim, que aquela história não havia terminado, podia render mais", contou. Dessa constatação, brotou o anseio de não apenas revisitar sua relação com o gênero musical, mas de aprofundá-la, dela fazendo um elemento provavelmente fundamental em sua carreira daqui para frente.

Gonzaguinha

Uma prova de que a aproximação de Maria Rita do samba não é passageira, foi a opção de, pela primeira vez, assinar a produção de um "álbum" seu – ela não gosta muito do termo CD. O embrião do disco começou a ser gerado em setembro de 2013, na elaboração do show apresentado no palco Sunset da última edição do Rock in Rio. A cantora apresentou um set list composto apenas por sambas de Gonzaguinha (1945-1991), interpretados sem instrumentos tradicionais.

A ideia inicial era de que ela gravasse cinco dessas músicas interpretadas na apresentação do festival. "Gonzaguinha é um compositor de quem sempre gostei muito e que foi muito importante na carreira de minha mãe. A canção ‘Redescobrir’, que deu nome à minha turnê, foi escrita especialmente para ela, e fechava o espetáculo e o disco Saudades do Brasil [álbum duplo lançado em 1980]."

Acontece que, à medida em que Coração a Batucar começou a ganhar contornos, com os sambas inéditos enviados por diversos compositores, surgiu um impasse. As composições de Luiz Gonzaga Jr. selecionadas – como "O Que É o Que É?", "Acredito na Rapaziada", "E Vamos à Luta", "É" e "O Homem Falou" – são sambas de teor mais engajado, com letras desafiadoras no plano político, e entravam em dissonância com o tom mais pessoal, intimista e amoroso do disco que ao poucos emergia. Dois deles entraram como bônus do álbum no iTunes: "Comportamento Geral" e "Um Sorriso nos Lábios".

"Eu me recuso a ser perfeita"

Coração a Batucar foi gravado praticamente todo ao vivo, em estúdio, no Rio de Janeiro. Maria Rita disse que, já nos seus primeiros discos, sempre preferiu trabalhar assim. A ideia é conseguir um resultado mais orgânico e humano. Avessa a recursos como o Auto-Tune, criador de áudio usado para disfarçar imprecisões e erros, a cantora diz, categoricamente: "Eu me recuso a ser perfeita".

Os arranjos do disco são assinados pelo maestro veterano Jota de Moraes, que opta pelo requinte do acústico sem grandes afetações. Todos são executados pela banda formada pelo marido da cantora (e pai de sua filha, Alice, de 1 ano), Davi Moraes (guitarra), Alberto Continentino (baixo), Wallace Santos (bateria), Rannieri Oliveira (teclados) e Marcelinho Moreira e André Siqueira (percussão).

O novo disco tem como primeiro single "Rumo ao Infinto", de Arlindo Cruz, de quem ela já havia gravado várias composições em Samba Meu, em parceria com Marcelinho Moreira/Fred Camacho. "Quando ouvi a música pela primeira vez, arrepiei na hora, chorei." A letra, sobre uma reconciliação amorosa, diz: "Pois é/ Nosso grande amor/ Que balança mas não cai/ Com fé/ Já se superou/ Rumo ao infinito/ vai/ E por ser tão forte assim/ Bem mais lindo que um jardim/ Nada pode abalar".

"Não é uma experiência que eu tenha vivido em minha vida pessoal, mas é uma história tão bonita que quis cantá-la", disse Maria Rita, para quem interpretar vai além da técnica, e envolve o esforço de se colocar no lugar de quem escreveu a canção, a entrega ao texto da música.

A primeira composição escolhida para Coração a Batucar, no entanto, foi "Saco Cheio", originalmente cantada, nos anos 1980, por seu autor, Almir Guineto.

Embora seja um disco mais coeso do que Samba Meu, Coração a Batucar tem bastante a ver com o álbum de 2007. Começa e termina em clima de pagode, com sambas metalinguísticos, que falam do próprio gênero. O que se seguem são sambas-canções românticos e líricos, que realmente seriam muito contrastantes com o tom mais perfurante e político das composições de Gonzaguinha.

Vale destaque "No Meio do Salão", espécie de resposta feminina de "Sem Compromisso", de Geraldo Pereira. Integram o álbum composições feitas para ela, como "É Corpo, É Alma, É Religião" e "Meu Samba, Sim, Senhor", mas também músicas inéditas. Entre elas, "Vai, Meu Samba", de Noca da Portela e Sergio Fonseca, que já tinha 20 anos de gaveta. GGG1/2

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