Renato Teixeira, o cantautor de "Romaria" e "Frete", tema do seriado "Carga pesada", chega finalmente ao DVD com uma retrospectiva de 40 anos de carreira em 20 canções inspiradas na cultura caipira dos interiores desses Brasis. Voz calma, clima suave, versos inspirados, belas melodias. Ele diz que canta para dar força e ajudar as pessoas a enfrentar as barras do dia-a-dia.
E se proclama inquilino de uma "lojinha" da nossa música, o folk brasileiro, segundo ele um gênero a ser descoberto pelas gravadoras e pelos urbanos.
- Quando a gente vai caçar lagosta, fica esperando perto da cova até que ela ponha a carinha de fora. A música folk brasileira é essa lagosta, só pôs a carinha de fora, há muita coisa a conhecer e a explorar. A nossa música conta histórias, ela não interpreta sensações. De certa forma, qualquer música que conta uma história é folk. Nesse mercado tão saturado de rock, axé e sertanejo não se identificou ainda o folk.
Renato acha o axé um horror e reclama dos sertanejos comerciais, alegando que se esqueceram do valor da letra e também do falso samba:
- O repertório de todos é muito banal, a música não pode ser piegas, tem que ser sutil. Se o Zeca Pagodinho não desse um chega para lá nessa gente, o samba estava mal. Os sertanejos são ótimos, melhoraram os shows no Brasil, mas não ligam para letra. O negócio deles é botar todo mundo para dançar nos rodeios. O Ministério da Cultura hoje é a Ambev, que precisa de muita gente...
Processo
Os ensaios para o DVD rolaram na casa de Renato, na Serra da Cantareira, arredores de São Paulo capital, cercado pela família, mostrada no making of dos extras. Dois filhos dele estão na banda, Chico Teixeira, que divide alguns vocais e toca violão e João Lavraz no baixo e piano. A gravação foi no elegante auditório Ibirapuera, bem gravado e captado, com vários convidados: Joana canta "Recado", sucesso em sua voz; Chitãozinho e Xororó dividem "Frete", gravado por eles para a série de Antonio Fagundes e Stenio Garcia. E ainda o referencial Pena Branca em "Quando o amor se vai" e o argentino Leon Gieco, que ele define como um Chico Buarque portenho, em "La Cigarra". Todos se unem a Renato em seu maior sucesso, "Romaria" , fechando o show.
Romaria foi gravado pelas duas maiores intérpretes brasileiras, Elis Regina (1977) e Maria Bethânia (1999). Renato conta a história da canção:
- Eu morava em Taubaté a 20 minutos de Aparecida do Norte e estava sempre por lá. Eu via as pessoas andando de joelhos, aquela estética, aquelas velas, eu achava tudo muito estranho, nunca tinha visto aquilo. Então peguei pesado, eu era ligado em poesia concreta, usei a técnica de terminar uma frase na frase seguinte. Jamais pensei que fosse ser um sucesso, mas aí a Elis gravou e estourou.
Apesar de compor na primeira pessoa, Renato diz que raramente alguma música é autobiográfica. Uma que parece ser, "Tocando pra frente" foi feita em cima de ditos populares, daí versos como "Ando devagar porque já tive pressa/ E levo esse sorriso porque já chorei demais/ Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe/ Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei".
- É uma coisa que tem muito a ver com a cultura brasileira, os ditos populares. Aquelas frases que são colocadas em placas na parede - explica.
"Eta mundo bão" ele admite que é autobiográfica.
- Eu sou de uma família de músicos que não se profissionalizaram e quando eu saí de Taubaté realmente aconteceu o que diz a letra, de família e amigos darem força para eu perseguir o que queria.
Na canção, muito animada, Renato fala de seus primeiros passos : "Quando eu vim pra esse mundo de meu pai/ Me acataram com festa e alegria/ E sonharam para mim/(...)/ Uma história de amores e poesia". A saga vai se desenrolando até a conclusão: "Então vamos que o tempo está passando/ E o melhor nessa vida é ir andando/ Nós estamos fazendo essa viagem/ E o planeta com a gente vai girando/ Cada dia é um dia nesse plano/ O que foi já passou/ E estar cantando/ É o prazer que alegra nossas vidas/ Nós cantamos por tudo que amamos."
Uma bela história de vida.
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