Desde que começou a trabalhar na televisão, em 1980, Lúcia Veríssimo não parou mais. Durante 20 anos ininterruptos, ela conta, dedicou todo o seu tempo à teledramaturgia e esteve presente em inúmeras produções. Há alguns anos, no entanto, resolveu que era hora de voltar a pôr os pés no teatro, "a essência do ator".
"Sempre fui radical, eu andava saltitando e não andando e, quando [novela da TV Globo] América (2005) acabou, resolvi investir na minha peça, Usufruto", lembra.
Por conta dos ensaios e da produção do espetáculo, com texto de sua autoria e direção de José Possi Neto, a atriz se mudou para São Paulo, um lugar no qual não havia pensado em morar. Rapidamente se adaptou ao ritmo da cidade e resolveu ficar. Em 2011, viveu a guerrilheira Jandira em Amor e Revolução, do SBT, por achar que a novela tratava de um tema relevante para a história brasileira, a ditadura militar.
Força
Essa mesma vontade de estar em cena voltou com força quando recebeu um convite de Wolf Maya para uma participação em Amor à Vida, trama das 21 horas da TV Globo. Lúcia entra no capítulo da próxima sexta-feira como Mariah, mãe biológica de Paloma (Paolla Oliveira). Misteriosa, a personagem guarda segredos.
"Ela está numa cadeira de rodas e viaja para Alemanha para colocar uma prótese. Não sei se volta com mais segredos e não sei se fico até o fim", explica Lúcia.
Para a atriz, a novela de Walcyr Carrasco "diz coisas interessantíssimas em um momento particular do Brasil". Entre outras, ela pontua a hipocrisia de César (Antônio Fagundes) e de Félix (Mateus Solano), e a a naturalidade com a qual o autor trata o casal homossexual formado por Niko (Thiago Fragoso) e Erom ( Marcello Antony).
"É bom que se assista com essa visão política. Ninguém é extremamente bom ou ruim, os personagens são incrivelmente colocados. Walcyr retrata o que vivemos", elogia a atriz, uma das fundadoras do Partido Verde (PV).
Aos 55 anos, Lúcia é cheia de convicções. É vegetariana há 32 anos. Há um ano, resolveu se tornar vegana não come alimentos derivados de fonte animal. Mas diz que enfrenta dificuldade em manter a dieta restritiva.
"Descobri que ser vegana é muito radical para quem viaja pelo país com uma peça. Em São Paulo, até há opções, mas tenho andado com uma mala de comida. É complicado."
Boa forma
À alimentação saudável ela atribui a boa forma. Já a pele "ótima", aprendeu a cuidar depois de um conselho precioso do cineasta Walter Hugo Khouri no início de sua carreira.
"Eu vivia torrando na praia, e ele me disse que o rosto de uma atriz é como uma tela em branco, não pode ter marcas. Desde então, não saio de casa sem bloqueador."
A atriz diz que a maturidade somada a 38 anos de análise a transformou numa mulher mais tranquila, mais segura e menos ansiosa. O "gênio de cão" foi amansado e a forma de se relacionar com os outros inclusive afetivamente mudou, ela revela.
"Eu era uma mulher que tinha milhões de pessoas ao mesmo tempo, era uma loucura. Agora vivo uma relação de cada vez. Adorei essa história de me reinventar e descobrir que a fidelidade é algo genial, principalmente quando você é fiel a você mesmo", filosofa Lúcia, que tenta unir o que acha pertinente em várias religiões e é estudante da teosofia estudo que sintetiza filosofia, religião e ciência.