O maestro gaúcho Radamés Gnattali (1906-1988), quem diria, além de um dos músicos mais importantes do Brasil, também lançou a Coca-Cola no país. A relação, que hoje soa inusitada, vem do fato de o músico estar à frente da orquestra do programa Um Milhão de Melodias, transmitido pela Rádio Nacional em 1943. A empresa de refrigerantes escolheu o programa como principal meio de divulgação para apresentar o produto ao mercado brasileiro.
O fato transcende a curiosidade e dá uma ideia da popularidade alcançada pela emissora carioca, que completou 75 anos de fundação em setembro. Esta e outras histórias de que as gerações surgidas já na era da televisão nem desconfiam estão no documentário Rádio Nacional, lançado também em DVD.
O filme é resultado de um trabalho de seis anos do diretor Paulo Roscio, que conversou com mais de 40 fontes ligadas à área entre jornalistas como Sérgio Cabral, humoristas como Chico Anysio, ex-radialistas como José Messias e, claro, cantores que passaram pela emissora, como Roberto Carlos e os célebres Cauby Peixoto e Marlene.
Legados
Estes últimos fazem parte de uma geração que fazia sucesso a partir do rádio. O próprio Cauby relata a tietagem que o cercava e como o mercado se aproveitava de títulos como o de "cantor que fazia as fãs desmaiarem". E Marlene protagonizou com Emilinha Borba uma rivalidade que dividia fãs como num "Fla-Flu".
Os times cariocas, aliás, também devem muito de sua popularidade e torcidas espalhadas pelo Brasil à rádio. O mesmo vale para a unificação da língua e a difusão de pensamentos, moda e comportamentos para todo o país. A emissora, que foi líder absoluta de audiência entre os anos 40 e 60, adquiriu um papel central na sociedade brasileira o que Getúlio Vargas, quando a incorporou ao patrimônio nacional, em 1940, de fato pretendia.
Os legados da emissora, conforme explicam os entrevistados, vão desde o adiamento por dez anos do golpe que aconteceu em 1964 até a criação das bases para o surgimento da bossa nova e do modelo de televisão da Rede Globo os padrões de credibilidade do jornalismo, que a rádio inaugurou com o Repórter Esso, e a grade de programação baseada em novela, humor e jornalismo.
O documentário percorre o auge da rádio nos depoimentos, até o início de sua decadência que começou com a recusa de sua concessão de tevê pelo governo e culminou com sua invasão pelos militares em 1964. É um documento de grande importância histórica, mas que, apesar de trazer trechos das transmissões, spots, jingles e fotos de arquivos, peca por pouco capricho na produção. GG1/2
Serviço
DVD Rádio Nacional. Direção de Paulo Roscio. Business Television. Preço médio: R$ 34,90. Documentário.
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