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Era Uma Vez, Eu, Verônica, é inspirado no universo feminino | Divulgação
Era Uma Vez, Eu, Verônica, é inspirado no universo feminino| Foto: Divulgação

O primeiro plano de Era Uma Vez, Eu, Verônica, em exibição na 36ª mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é enganador. Vemos homens e mulheres em uma praia paradisíaca, todos nus, fazendo sexo. Nada explícito, mas tudo muito sensual. Esse, no entanto, não é exatamente o tom do longa-metragem do diretor pernambucano Marcelo Gomes, de Cinema, Aspirinas e Urubus. O filme é, na realidade, um profundo e inspirado estudo sobre o universo feminino, personalizado pela personagem-título, vivida pela também recifense Hermila Guedes, de O Céu de Suely, de Karim Aïnouz.

A personagem é uma médica que acaba de concluir sua residência em psiquiatria e começa a trabalhar em um hospital público. O contato com dezenas de pacientes, muitos com histórias bastante complicadas, como é de se esperar, faz com que Verônica repense suas opções e sua própria vida.

Ela mora no Recife com o pai viúvo, vivido pelo excelente veterano W. J. Solha, que sofre de uma doença terminal, e de quem é muito próxima. A constatação de finitude e da dor dos outros forçam Verônica, aos poucos, a começar a olhar para si mesma. Tanto que grava, todos os dias, depoimentos pessoais, falando do que está sentindo e pensando, como se fosse uma paciente, na tentativa de entender, por exemplo, por que não consegue levar qualquer relacionamento amoroso mais a sério.

Vencedor do prêmio de melhor filme no último Festival Brasília, em empate com Eles Voltam, de Marcelo Lordello, Era Uma Vez, Eu, Ve­­rônica atesta a vitalidade do cinema pernambucano atual. Como outro conterrâneo muito premiado em festivais, O Som ao Redor, de Kléber Mendonça filho, o filme de Gomes também toma como foco o cotidiano de personagens da classe média brasileira, o diálogo que mantêm com a realidade que as cerca.

Graças a um roteiro que dá atenção a pequenos detalhes subjetivos e a uma atuação brilhante de Hermila Guedes, Verônica já é uma das mais interessantes personagens femininas do cinema nacional dos últimos anos. Tem complexidade e empatia, sem resvalar no excesso de querer ser excessivamente cheia de virtudes. É uma mulher brasileira muito contemporânea, e um espelho interessante, enfim.

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