O jovem elegante lendo a Gazeta do Povo entre amigos, em foto nesta página, é o fotógrafo paranaense Synval Stocchero, dono de três paixões reveladas em centenas de imagens que realizou até pouco antes de morrer, em fevereiro de 2008: a família, o Clube Atlético Paranaense e a cidade de Curitiba. Quatro, na verdade, se contarmos a mais óbvia, a fotografia.
Através de suas lentes ele registrou as grandes transformações urbanísticas vividas pela Curitiba das décadas de 50 e 60, principalmente, a efervescência das ruas centrais como a Avenida Luiz Xavier e a Rua XV de Novembro. "Ele começou a fotografar em um período muito interessante da cidade, quando se iniciava o processo de verticalização, logo após a Segunda Guerra Mundial", conta Maria Luiza Gonçalves Baracho, historiadora e pesquisadora da Casa da Memória do Patrimônio Cultural da Fundação Cultural de Curitiba (FCC).
Ela é uma das responsáveis por organizar a exposição Curitiba na Mira do Fotógrafo, que abre hoje, no Salão Paranaguá do Memorial de Curitiba, juntamente com o lançamento de uma edição especial do Boletim Casa Romário Martins sobre o material exposto.
Estarão nas paredes um primeiro lote de 120 imagens em preto e branco de um acervo de mais de 400 obras realizadas entre 1940 e 2007 selecionadas pelo próprio Stocchero feitas, a maioria, do alto dos edifícios e dos aviões. "Ele nos procurou alguns anos antes de morrer para propor uma exposição só com suas fotos aéreas. Começou a selecionar material, mas na época tivemos várias dificuldades, inclusive de calendário, e não pudemos organizar a mostra", conta a pesquisadora, que acabou fazendo amizade com o fotógrafo e, com apoio de sua família, selecionou os originais, hoje integrados ao acervo da FCC, que compõem a Coleção Synval Stocchero. "As fotos revelam o olhar do fotógrafo sobre o próprio trabalho, o que ele achava mais interessante", analisa Maria Luiza.
Nascido em Itaperuçu, Stocchero veio, aos 3 anos, com a família para Curitiba. Seu gosto pelas fotos aéreas teve início aos 18 anos, quando passou a servir a Aeronáutica. "Na base aérea, começou a fazer suas primeiras fotos no avião", conta a pesquisadora, para quem as imagens selecionadas pelo fotógrafo para compor a exposição, produzidas nos anos 50 e 60, podem ser vistas como a sequência de uma rota de voo.
Stocchero também subia no alto dos edifícios, em obras ou já finalizados, como o extinto Hotel Eduardo VII, na esquina da Praça Tiradentes, para registrar panoramas urbanos. "Mas as fotos também mostram uma Curitiba vista por quem caminha. São fotografias do cotidiano, de carros passando, pessoas atravessando rua, eventos como uma parada militar e uma corrida de lambreta", conta a pesquisadora.
O fotógrafo foi profissional de jornais como a Gazeta do Povo, por um curto período, no início da década de 50, o Estado do Paraná e a Revista Panorama. Também fazia fotos de estúdios e publicitárias. "Era o tempo em que os fotógrafos eram chamados nas casas para fazer retratos", conta Maria Luiza.
Mas, sobretudo, Stocchero clicava de forma independente as transformações da cidade, que incluíam o registro dos principais momentos do time tricolor, desde o lançamento da pedra fundamental do estádio Arena da Baixada. "Registrar Curitiba era quase um compromisso que ele tinha com ele mesmo", diz Maria Luiza.
Serviço:
Curitiba na Mira do Fotógrafo. Memorial de Curitiba (R. Claudino dos Santos, 79 Largo da Ordem). Abertura hoje, às 19 horas. De terça a sexta-feira, das 9 às 12 horas e das 13 às 18 horas; sábados, domingos e feriados, das 9 às 15 horas.