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Travesti Ludmila (Danton) integrante do grupo Dzi Croquettes: transformismo ajudou Madalena a aprimorar suas técnicas de luz | Reprodução
Travesti Ludmila (Danton) integrante do grupo Dzi Croquettes: transformismo ajudou Madalena a aprimorar suas técnicas de luz| Foto: Reprodução

Fotografia

Crisálidas

Madalena Schwartz. Organização de Jorge Schwartz. Instituto Moreira Salles. 136 págs., R$ 80.

  • Carlinhos Machado, do Dzi Croquettes: Madalena estabeleceu uma forte relação de amizade com o grupo
  • Os Dzi Croquettes, considerados uma entidade na década de 1970, são os protagonistas de Crisálidas
  • A fotógrafa aproximou-se do grupo e de outros profissionais do teatro para aprimorar técnicas de luz
  • Elke Maravilha é uma das figuras públicas fotografadas por Madalena
  • Os travestis Ludimila (Danton) e Carlos: apartamento da fotógrafa servia de estúdio improvisado
  • Discreta, Madalena não gostava de ser entrevistada ou fotografada. Esse é um dos raros registros dela em ação
  • Madalena conheceu Ney Matogrosso em 1973.
  • Roberto de Rodrigues, do Dzi Croquettes, clicado antes de entrar em cena. Sem título: Imagens do livro, da década de 1970, foram organizadas pelo filho Jorge Schwartz

Quem vê a imagem da fotógrafa Madalena Schwartz (1921-1993) logo no início do recém-lançado Crisálidas, uma compilação de imagens realizadas por ela na década de 1970, organizada por um de seus filhos, Jorge Schwartz, custa a acreditar que a senhora discreta e elegante possa ter sido a responsável por imagens tão surpreendentes de artistas e transformistas, em uma São Paulo que tinha no centro da cidade sua efervescência cultural. Considerada pelos críticos a "dama do retrato brasileiro", a húngara, que emigrou duas vezes (para a Argentina e para o Brasil), é uma das fotógrafas do acervo do Instituto Moreira Salles – aproximadamente 16 mil negativos estão na entidade, responsável pela edição da obra.

Logo que chegou ao Brasil com a família, na década de 1960, vinda de Buenos Aires, Madalena comandou com o marido Ernesto a lavanderia Irupê, instalada no centro de São Paulo. Os passeios pela avenida São Luís e pelas ruas Augusta e Consolação, além da vizinhança e dos clientes anônimos, boêmios e artistas, ajudaram a fotógrafa a compor e a descobrir o universo que a interessava. Ela começou despretensiosamente em 1966, aos 45 anos, um curso no Foto Cine Clube Bandeirantes (próximo de sua casa), após se empolgar com a aquisição de uma câmera fotográfica pelo filho Julio.

A concentração de artistas e intelectuais da região fez com que Madalena conhecesse e se aproximasse de seus retratados. Um belo dia, pediu que um cliente cativo da lavanderia, o escritor Ignácio de Loyola Brandão, visse suas fotos. A amizade possibilitou que ela recebesse convites para trabalhar em diversas revistas nacionais, caminho que a levou à TV Globo, onde atuou como retratista entre 1979 e 1991. Ela é, aliás, conhecida por fotografar escritores, músicos e intelectuais, como Clarice Lispector, Caetano Veloso e Sérgio Buarque de Holanda (reunidas na obra Personae, de 1997, da Companhia das Letras).

Transformismo

Entretanto, não era essa fase que o filho Jorge queria mostrar, mas sim, a dos idos da década de 1970, quando ela se aproximou dos profissionais de teatro para aprimorar suas técnicas de luz e se encantou pelo mundo do transformismo. "Esse é um núcleo dentro do trabalho da minha mãe que eu achei que seria necessário o público conhecer. Faz um conjunto coerente com o restante da sua obra", contou Schwartz em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo do Museu Lasar Segall, em São Paulo, onde é diretor.

Além de artistas anônimos e travestis, a publicação traz fotos de Ney Matogrosso, ainda no grupo Secos & Molhados, e tem como protagonista os integrantes do Dzi Croquettes, que fizeram história com seus espetáculos musicais e de humor, com homens de cílios postiços e maquiagem que desafiaram a ditadura (o grupo durou de 1972 a 1976, e também foi retratado recentemente em um documentário homônimo de Tatiana Issa e Raphael Alvarez). As imagens do livro, todas em preto e branco, foram feitas nas coxias dos teatros ou no estúdio improvisado no edifício Copan, onde ficava o apartamento de Madalena, no 30.º andar. "A iluminação era ótima e ela tinha uma boa máquina. Isso era o suficiente para ela trabalhar", conta Jorge.

Reconhecimento

Jorge Schwartz acredita que a mãe não tinha consciência da artista que era, e nem pousava como tal. O único registro do livro que mostra Madalena fotografando, segundo o filho, é uma das raras sequências dela trabalhando. "Ela era super baixinha, pequenininha mesmo, e muito discreta. Não gostava de se expor em público e de ser entrevistada. Ela era muito avessa a tudo isso, tinha a fotografia como seu ganha pão, não se achava superior ou especial como muitos artistas. Ela soltava a sua criatividade através da lente."

Crisálidas

Madalena Schwartz. Organização de Jorge Schwartz. Instituto Moreira Salles. 136 págs., R$ 80.

Veja algumas fotos publicadas no livro

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