Embaixador da Colômbia
Os gordinhos persistem em suas obras, mas Botero não se repete. Saiba mais sobre a trajetória do artista.
Retrato do país
Considerado "o mais colombiano dos artistas colombianos", Botero retrata, desde suas primeiras obras, o povo colombiano: suas mulheres, a comida, as casas, o cotidiano. Nascido em 1932 em Medellín, o pintor e escultor tornou-se um dos artistas mais prestigiados da América Latina à medida em que suas figuras roliças se popularizaram mundo afora. Suas obras, orçadas em milhões de dólares, podem ser vistas, atualmente, em mais de 50 exposições simultâneas internacionais.
Estudos na Europa
Publicou seus primeiros desenhos aos 16 anos, no jornal El Colombiano. Em 1951, realizou suas primeiras exposições individuais. Pouco depois, mudou-se para a Espanha, onde estudou na Academia de San Fernando, antes de seguir para Paris e para a Florença, onde se aprofundou nas técnicas dos mestres renascentistas. No México, dedicou-se à pesquisa sobre o muralismo mexicano de Diego Rivera e José Orozco, cuja influência é evidente em suas obras mais políticas.
Produção
Suas obras mais famosas são as releituras bem-humoradas de "O Casal Arnolfini", de Jan van Eyck, e da "Monalisa", de Leonardo da Vinci, em que as figuras humanas aparecem com formas arredondadas e estáticas.
Em 2005, uma mostra de Botero nos Estados Unidos chamou a atenção mundial por sua temática que denunciava os abusos dos soldados norte-americanos aos presidiários de Abu Ghraib, no Iraque. Em 2006, retornou aos seus primeiros temas como a família e a maternidade e, em 2008, exibiu obras de sua coleção chamada O Circo.
Uma exposição com obras do artista colombiano Fernando Botero chega pela primeira vez a Curitiba na próxima quarta-feira (18). Mas o público acostumado às figuras gordinhas retratadas de modo sensual, em cores alegres, que renderam fama ao pintor de 79 anos, terá uma surpresa.
Em Dores na Colômbia, mostra itinerante patrocinada pela Caixa Econômica que entra em cartaz no Museu Oscar Niemeyer, persistem as formas generosas, mas a temática é a realidade violenta do país natal de Botero. "Para muita gente, será um choque se deparar com as figuras que são a marca registrada do artista em cenários de extrema crueldade. É uma exposição que leva o público à reflexão sobre algo que procuramos esquecer, até para seguir vivendo, mas que não podemos negar", alerta Natalia Bonilla, encarregada pelo Museu Nacional da Colômbia, dono das obras, de acompanhar a montagem da mostra no Brasil.
Os personagens obesos, que em outros períodos da trajetória de Botero estão associados à alegria de viver, à sensualidade e à exuberância do povo latino-americano, aparecem nas 67 obras, entre desenhos, pinturas em óleo sobre tela e aquarelas, com lágrimas nos olhos pela perda de entes queridos, sendo sequestradas, esquartejadas, levando tiros ou carregando caixões. Em muitas telas, os vultos roliços permanecem pintados com cores fortes, alegres, como uma espécie de ironia, um humor negro que provoca e suscita a reflexão.
As obras, produzidas entre 1999 e 2003, foram doadas ao Museu Nacional da Colômbia em 2004 pelo artista junto com parte de sua coleção privada, que inclui quadros de artistas consagrados como Pablo Picasso. "O povo colombiano é muito agradecido a Botero, pois é a primeira vez que abrigamos no país obras de tal importância. Pode-se dizer que ele é uma espécie de embaixador da arte colombiana, seja por sua representatividade internacional, seja por gestos como esse", diz Natalia Bonilla.
O artista, que nas últimas décadas vive entre Nova York, Paris e a Itália, costuma visitar frequentemente a Colômbia, que nunca deixou de ser tema de seu trabalho de muitas influências do muralismo político dos mexicanos Diego Rivera e José Orozco, à arte do século 19 da Europa, onde deu início aos seus estudos. "Na Itália, ele atuou como copista para aprender as mais diferentes técnicas da pintura e, assim, foi incluindo elementos destas obras às suas pinturas", explica a funcionária do museu colombiano.
Fase recente
As obras de Dores da Colômbia pertencem a uma fase recente e mais pessimista de Botero, em que ele demonstra sua consternação diante das realidades de violência em seu país e no mundo logo em seguida, entre 2004 e 2005, produziu uma ampla série em que denuncia as atrocidades cometidas por soldados norte-americanos aos prisioneiros de Abu Ghraib, no Iraque. "Para ele, a arte é uma maneira de mostrar seu repúdio, de dizer o que pensa sobre esses atos", diz Natalia.
Entre as obras-denúncia, nas quais Botero se comporta quase como uma espécie de repórter da violência praticada há décadas, especialmente em 1990, por grupos guerrilheiros e paramilitares na Colômbia, Natalia chama a atenção para as telas em que aparecem mães chorando sobre os caixões de seus filhos; os desplazados, ou seja, camponeses obrigados ao êxodo pela violência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc); e os sequestrados pela guerrilha no meio rural ou urbano.
"O tema geral é a morte", resume. Por isso, não é estranha a presença ao longo da exposição de esqueletos que surgem como pitada de humor negro aqui e ali, "consolando" suas vítimas ou empunhando a bandeira da Colômbia sobre cadáveres de famílias assassinadas. Impacta também a vulnerabilidade de pessoas nuas que choram desesperadas. "Diante deste estado de terror, a nudez surge como a dizer que não há maneira de se proteger", analisa Natalia.
A colombiana conta que, por onde passa, acompanhando a exposição de cunho exclusivamente itinerante, percebe o impacto provocado sobre o público. No Brasil, onde a violência também assume as mais diversas formas, certamente haverá identificação. "O objetivo é fazer com que as pessoas reflitam sobre a necessidade de evitar que algo que aconteceu na Colômbia não se torne realidade em seu próprio país", diz Natalia.
A mostra, que já esteve em São Paulo em 2007, no Memorial da América Latina, deixa Curitiba em agosto com destino aos espaços da Caixa em Brasília, Rio de Janeiro e Salvador.
Serviço
As Dores da Colômbia, de Fernando Botero (confira o serviço completo da exposição). Museu Oscar Niemeyer (R. Mal. Hermes, 999), (41) 3350-4400. Abertura, dia 18. De terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas. R$ 4 e R$ 2 (meia). Entrada gratuita para estudantes, crianças menores de 12 anos e idosos e no primeiro domingo de cada mês. Até 14 de agosto.
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