No dia 11 de setembro de 1973, uma ditadura militar foi instaurada no Chile depois de três anos de regime esquerdista. O presidente Salvador Allende sofreu um golpe de estado, suicidou-se e Augusto Pinochet assumiu.
Machuca é um filme que narra as transformações políticas e embates sociais daquele período por meio da amizade de duas crianças. Todas as vezes em que investe nessa relação, o filme ganha pontos. Mas, quando caracteriza o ambiente social e político que permeia a história, seu esquematismo emerge e transforma a selvageria e violência em uma lembrança limpa e confortável de uma esquerda cor-de-rosa.
No início, o filme dirigido e co-escrito por Andrés Wood nos apresenta o menino burguês Gonzalo Infante. Ele estuda em um colégio de direção britânica e ganha novos colegas por iniciativa do padre McEnroe, que abre algumas vagas para as crianças da periferia. Gonzalo logo faz amizade com o favelado Pedro Machuca, um dos meninos novatos.
É uma amizade que une dois mundos, duas classes sociais distintas para o filme, a divisão da sociedade em classes sociais é algo perfeitamente natural. Por isso, o universo da criança rica e da pobre é justamente aquilo que se espera. Gonzalo é solitário, perseguido por outros meninos da escola, filho de uma mãe infiel e um pai ausente e desinteressado, preocupado com rotinas burguesas cotidianas e fúteis. Quando ele entra no caminhão do tio de Machuca, para pegar uma carona, defronta-se com um mundo de personagens simpáticos. No primeiro passeio pela favela, as pessoas são amáveis, simples, trabalhadoras e muito dignas, envolvidas por um senso de coletividade.
Depois, o filme tenta relativizar o esquematismo, ao mostrar que a mãe de Gonzáles ama e mima o filho ao mesmo tempo em que é asquerosamente superficial e tola. O pai de Machuca, por sua vez, é um homem bêbado e vagabundo. Mas se não disfarçam o simplismo, essas cenas, centradas nas histórias individuais (as primeiras conquistas amorosas, brigas) fazem o filme ganhar vida e se emancipar dos arquétipos de alguma teoria social.
É o reflexo de um tempo em que a militância esquerdista perdeu o sentido que tinha no fim dos anos 60 e se resume a uma nuvem opaca de desejos e ambições que nos oferece paz de espírito, mas não altera nossas ações. Como em Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci, a revolução sobrou apenas como uma memória confortável, em uma embalagem "tipo exportação", para que possamos todos, afinal, devolver o DVD na locadora, passar num drive-thru para comer um lanche, voltar para casa e dormir tranqüilamente. Do vermelho ao cor-de-rosa, o PT talvez seja hoje o exemplo mais evidente disso. GGG
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