Sergio tem 38 anos, pertenceu à classe média alta de Havana, capital de Cuba, e passou, há não muito tempo, por uma perda traumática: sua mulher e amigos fugiram da ilha e do comunismo logo após a revolução de 1959, ocorrida dois anos antes. Ele se recusa a partir, não porque seja um revolucionário, mas por desejo de saber o que vai acontecer a seu país. É um personagem que destoa do ambiente, e seu anacronismo é o modo encontrado pelo cineasta Tomaz Gutiérrez Alea (1928-1996), no clássico documentário Memórias do Subdesenvolvimento, para criticar os rumos que o regime de Fidel Castro já começava a tomar em direção ao autoritarismo e ao cerceamento dos direitos civis.
O filme, lançado em 1968, sai agora em DVD pela primeira vez no Brasil (Videofilmes, R$ 46). Trata-se de um dos mais importantes documentários latino-americanos de todos os tempos e um dos principais registros que o cinema cubano produziu sobre sua revolução socialista. Comparado a Encouraçado Potemkin (1925), clássico soviético de Sergei Eisenstein, tem a vantagem de não fazer exaltação acrítica ao novo regime.
O cinema cubano do início dos anos 60 foi único ao retratar o processo de implantação do socialismo de um modo crítico, não-laudatório. O filme de Gutiérrez Alea mescla cenas documentais, tomadas à época da batalha de Playa Girón (1961) e da Crise dos Mísseis (1962), e outras "encenadas", como o episódio que mostra um aeroporto repleto de cubanos ricos carimbando passaportes para deixar o país. Embora isso tenha de fato acontecido, a seqüência é recriada para efeitos dramáticos. Há, ainda, um romance ficcional e a interferência da realidade nessa ficção como quando o protagonista vagueia no meio de uma festa real do 1.º de Maio.
Memórias do Subdesenvolvimento é baseado no romance homônimo do escritor Edmundo Desnoes, hoje exilado nos Estados Unidos. Ele e Alea realizaram no período de dez anos após a revolução, quando a vigilância e censura do Estado não eram tão intensas e ainda era possível produzir uma crítica tão intensa ao regime.
Entre os extras da edição, o destaque fica por conta do Cine Revista, uma espécie de aperitivo que precedia a atração principal nas sessões de cinema em Cuba até antes da revolução de 59. Em cerca de dez minutos, o público assistia a esquetes de humor, reportagens e notas informativas. De 1956 a 1959, Gutiérrez Alea hoje mais conhecido por seus últimos filmes, Morango e Chocolate e Guantanamera foi o diretor técnico da série, chegando a assinar algumas de suas edições. GGGGG
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