São Paulo (AE) Um advogado criminalista sedutor, bonito, cínico, perspicaz, irreverente, que transita com desenvoltura entre o submundo e a dita alta sociedade, sempre acompanhado de seu charuto e de belas garotas. Poderia ser mais um clichê policial não fosse o advogado um típico carioca bon vivant, símbolo das idiossincrasias do brasileiro. Mais ainda, se esse advogado não fosse Mandrake, o célebre personagem criado em 1967 por Rubem Fonseca, que deu fôlego à literatura policial brasileira e se tornou modelo do gênero. Com o altruísta e, ao mesmo tempo, cínico Mandrake, Fonseca inaugurou a moderna literatura urbana no Brasil, retratando de forma perspicaz a violência e revelando as entranhas da sociedade brasileira.
São essas entranhas que José Henrique Fonseca, filho de Rubem, revela agora. Zé Henrique, como é chamado, é responsável pela direção geral da série Mandrake (Marcos Palmeira em sua melhor forma), da Conspiração Filmes, que a HBO exibe a partir do domingo para toda a América Latina. A estréia marca o primeiro projeto brasileiro produzido pela emissora a cabo. O mesmo já acontece em países como Argentina, mas o Brasil teve de esperar até 2003 para começar a tocar projeto semelhante.
Além dos desafios de produção, Zé Henrique confessa que sentiu a responsabilidade dupla de adaptar para a obra de um grande escritor e de seu pai. "Há este peso. Mas estávamos falando de tevê. E a saída era não levar tão a sério assim a obra literária, no melhor sentido disso", comenta ele, que contou com a ajuda de Tony Bellotto e Felipe Braga para transformar três contos e dois romances nos oito episódios da série.
Os três primeiros são adaptações diretas de O Caso de F.A., Dia dos Namorados e Mandrake. Os outros cinco são originais inspirados em A Grande Arte, Do Meio do Mundo Prostituto, Só Amores Guardei ao meu Charuto. "Mandrake é um personagem que foi amadurecendo ao longo do tempo. Optamos por filmar o advogado dos primeiros anos, mais irreverente, divertido. Nos livros mais recentes, ele já é um cara mais filosófico e literário", explica Braga.
Cinema, literatura e TV ao mesmo tempo, a série, possui o mérito de dessacralizar não só o texto de Rubem Fonseca, mas o "Rio de Janeiro de cartão postal". Cair no gosto médio para inglês ver seria a saída mais óbvia. A trupe da Conspiração conseguiu o difícil objetivo de revelar um Rio verdadeiro, sem mitificar a violência. O Rio de Mandrake é o rio do cidadão comum, que toma uma vitamina na casa de sucos da esquina, toma um táxi na praia de Copacabana e vê da janela do carro a beleza do Aterro do Flamengo. A câmera passeia com Mandrake pelas ruas, como um amigo que o segue. "A cidade sempre foi muito presente na obra do meu pai. Na tevê, ele também tem de dialogar com o espectador. Por isso, optamos por usar poucas cenas em estúdio e muitas de rua. Filmamos todas as tomadas de rua com câmera na mão. Para cenas internas, ou com a câmera apoiada em algum móvel. Nada de tripé, que deixasse o ponto de vista muito distante do personagem", explica Fonseca.
Serviço: Mandrake. Hoje, às 23 horas (reapresentação, às terças, às 23horas). HBO (TVA, Directv, NET).
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