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Pôster do filme antivacina de Andrew Wakefield | Divulgação/
Pôster do filme antivacina de Andrew Wakefield| Foto: Divulgação/

Não existe nenhuma democracia bem estruturada em que a liberdade de expressão não seja um valor praticamente absoluto, que valha para todos os cidadãos. Ninguém deve temer represálias pelo que fala, pois isso é o que garante a pluralidade de ideias fundamental a qualquer sociedade sadia.

Foi para evitar que as vozes que se levantavam contra os poderosos fossem silenciadas que países como a Inglaterra e os Estados Unidos criaram Declarações de Direitos nos séculos 17 e 18, respectivamente, que até hoje são exemplo de boas leis.

Por isso mesmo, o ator Robert De Niro agiu corretamente ao censurar — sim, censurar — o filme “Vaxxed – From Cover Up to Catastrophe” no Festival de Tribeca, em Nova York, do qual é um dos fundadores.

O filme defende que o CDC (Centro para o Controle de Doenças dos Estados Unidos) escondeu dados que provam a relação entre as vacinas e o autismo em um estudo publicado em 2004. Por isso o título do filme: “Vacinado – do encobertamento à catástrofe”.

O problema é que o documentário é dirigido por ninguém menos que o médico Andrew Wakefield, que teve seu registro cassado na Inglaterra após fabricar uma das fraudes mais elaboradas e perigosas da história da medicina.

Em um estudo publicado em 1998 no respeitado periódico médico “Lancet”, ele afirmou ter chegado à conclusão que a vacina tríplice viral transformou 12 crianças normais em autistas após provocar inflamações intestinais.

Brian Deer, jornalista de outro periódico médico famoso, o “British Medical Journal”, desmascarou a farsa produzida por Wakefield. Mostrou que cinco das 12 crianças já possuíam problemas de desenvolvimento, fato omitido pelo médico. Vários outros estudos conduzidos depois provaram que não havia nenhuma correlação entre as vacinas e o autismo.

Era, porém, tarde demais. A histeria provocada pelo estudo levou milhares de pais a colocarem em risco seus filhos, recusando vaciná-los. Graças a esse comportamento, houve um aumento nos casos de sarampo na Europa e Estados Unidos, além de epidemias de rubéola na Inglaterra e País de Gales, em 2008.

De Niro, pai de uma criança autista, titubeou em um primeiro momento e quase autorizou a exibição da peça de propaganda antivacina. Mas acertou a consultar a comunidade científica, que luta há anos contra o forte lobby de Wakefield nos EUA, onde é apoiado por celebridades carentes de atenção. Neste caso, prevaleceu a essência da lei: manter o debate livre do veneno da falsa informação.

Até Donald Trump faz parte do movimento antivacina nos EUA

Depois de perder a licença e viver no ostracismo na Inglaterra, Andrew Wakefield achou terreno fértil para sua teoria fraudulenta nos Estados Unidos. Foi acolhido por celebridades como Donald Trump, que hoje concorre nas primárias do Partido Republicano a candidato à presidência dos Estados Unidos, e Jenny McCarthy, que arrastou, na época, o então namorado Kim Carrey para o movimento. Até o apresentador liberal Bill Maher se tornou um cético em relação às vacinas.
A teoria de Wakefield fez — e ainda fez sucesso — entre os pais porque o autismo não tem causas definidas pela ciência. Não é somente ambiental, nem genético ou causado por algum agente patogênico. São vários fatores ainda não totalmente compreendidos. Quando o médico inglês apareceu com a relação entre vacina e a doença, muitos pais sentiram revolta e alívio ao mesmo tempo, por pelo menos entenderem a causa da síndrome. Mas era uma fraude. Os melhores estudos confirmam que não existe ligação nenhuma entre uma coisa e outra.

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