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Viva a bossa", cantava Caetano Veloso, em 1967, na música "Tropicália", uma das canções mais representativas do tropicalismo, movimento cultural que iniciou juntamente com Gilberto Gil. Quase quatro décadas depois, o baiano rendeu nova homenagem ao gênero, desta vez em dupla com o Rei Roberto Carlos, em um espetáculo histórico realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. No repertório apenas canções de Tom Jobim, interpretadas tanto em dueto quanto em momentos solo pelos dois cantores.

Apenas dez minutos depois do horário previsto — o show estava marcado para as 21h — a platéia impaciente já batia palmas pedindo o início da apresentação. Seriam necessários ainda mais 20 minutos para que as luzes se apagassem e, com cortinas fechadas, um playback com a trilha de "Orfeu da Conceição" ganhasse o teatro lotado.

Dueto

Na seqüência, outra trilha pré-gravada, desta vez a introdução de "Garota de Ipanema", foi executada como deixa para que Caetano e Roberto prosseguissem com o clássico de Jobim e Vinícius de Moraes. Eles ainda cantariam em dueto "Wave", para depois Caetano apresentar o pianista e neto de Tom, Daniel Jobim, que seguiu com "Águas de Março". De olhos fechados era possível imaginar a presença de Tom no recinto, tamanha a semelhança entre o timbre das vozes.

O palco simples, com poucos elementos cênicos, mudava de aparência de acordo com a iluminação e com as imagens projetadas em um mural branco localizado atrás dos músicos. Nele, um desenho estilizado de Tom lembrava o músico, morto em 1994.

Acompanhado por Gabriel Improta (violão), Jorge Helder (baixo), Paulinho Braga (bateria), Carlos Malta (sopros) e cordas regidas por Jaques Morelenbaum, além do supracitado Danilo, Caetano retornou ao palco para sua parte solo composta por músicas mais líricas e de maior complexidade harmônica, como "Por toda a minha vida", "Inútil paisagem", "Meditação", "O que tinha de ser" e "Caminho de pedra", Sobre essa última, explicou: "Conheço essa canção desde criança, existe um aspecto misterioso nela do qual sempre gostei".

Outra gravação de Tom ao piano, desta vez de "Estrada do sol", fez a ponte para que Roberto voltasse ao placo e cantasse um Jobim mais popular e conhecido. Sua banda foi formada por Norival D’Angelo (bateria), Darcio Ract (baixo), Paulinho Ferreira (violão), Benedito Wanderley (piano), Arthur Borba de Paula, o "Tutuca" (teclados), Anderson Márquez, o "Dedé", (percussão), e o inseparável maestro Eduardo Lages.

Em espanhol, começou com "Insensatez" ("tive o atrevimento de fazer essa versão"), "Por causa de você", "Corcovado", "Samba do avião" e "Eu sei que vou te amar".

Jobim em 78

Mas o momento mais emocionante do show foi a exibição da participação de Jobim no especial de fim de ano gravado para a Rede Globo, em 1978. Ao piano, Tom toca os primeiros acordes de "Lígia" e começa a cantar, deixando a segunda estrofe a cargo de Roberto. O Rei, já no palco do Municipal, relembrou. "Foi um dos momentos mais bonitos da minha carreira", e continua de onde havia parado no especial.

Caetano volta para o fim do espetáculo e os dois se juntam para a divertida "Tereza da praia" — parceria de Tom Jobim e Billy Blanco —, "A felicidade", "Chega de saudade" e, no bis, "Se todos fossem iguais a você".

Muita gente já ia embora quando as cortinas foram reabertas para "Chega de saudade" mais uma vez, agora com os cantores dividindo os vocais com os 2.300 privilegiados espectadores da homenagem a Tom, à bossa nova e à música brasileira.

No domingo, dia 24, é a vez de João Gilberto subir ao palco do Municipal, que tal qual a noite de sexta (22), também já tem sua lotação esgotada.

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