Roberto Carlos ganhou a queda de braço contra o escritor Paulo César de Araújo e a Editora Planeta para retirar do mercado sua biografia não autorizada. Em audiência de conciliação que durou das 13h30 desta sexta-feira às 18h15, na 20ª Vara do Fórum Criminal de São Paulo, o cantor e compositor obteve a garantia de que o livro "Roberto Carlos em detalhes", lançado em dezembro do ano passado, não será reimpresso e que serão entregues a ele os 11 mil exemplares em estoque na editora. A empresa se comprometeu ainda a tentar recomprar os exemplares já em poder das livrarias para repassá-los ao rei.

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Segundo o advogado de Roberto Carlos, Norberto Flach, a editora teria informado ao juiz que conduziu a audiência, Tércio Lopes, que imprimiu 33 mil exemplares. Por essas contas, 22 mil teriam sido vendidos - não se sabe ao certo quantos já estariam nas mãos dos consumidores finais. O acordo serviu para pôr fim a duas ações: a de ordem cível e a de ordem criminal. A principal alegação é que o livro seria uma ofensa à honra e invade a privacidade do cantor. "Roberto Carlos em detalhes" foi lançado em 2 de dezembro de 2006 e teve liminar determinando sua retirada das prateleiras no dia 12 de janeiro.

Roberto Carlos entrou no Fórum da Barra Funda por um portão do fundo, sem falar com a imprensa. No início da audiência, perto de 100 pessoas se acotovelavam para ver, falar ou obter um autógrafo do Rei. Ao final, mais uma vez calado, o artista até beijou uma criança no colo da mãe. E saiu pelo mesmo acesso por onde tinha entrado, a bordo de seu Escort 1994 de vidro fumê.

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O juiz responsável pela audiência não quis comentar detalhes do que foi discutido na sala de audiência. Segundo o advogado de Roberto, houve momentos de tensão, o que se confirmou pelos olhos marejados de Paulo César de Araújo na saída do local.

- Esta decisão é frustrante para a história da música popular, para os fãs de Roberto Carlos e para a democracia brasileira, por impedir que se publique uma obra sobre um dos maiores ídolos em nível nacional e internacional. É uma censura que vai pesar sobre os ombros do rei. Ele contribuiu para volta da censura ao país - disse ele. O autor diz que gastou 15 anos de sua vida em pesquisas para a feitura da obra, que conta com cerca de duas centenas de entrevistas de músicos, amigos e outras pessoas que, de alguma forma, participaram da construção da carreira de Roberto Carlos.

"Roberto Carlos em detalhes" cobre a vida de Roberto Carlos desde a infância em Cachoeiro do Itapemirim até os anos 2000. Há um olhar central sobre a obra de Roberto, mas muita coisa da vida pessoal está lá. Entre outros temas, falava de um encontro amoroso com Sonia Braga e de sua tentativa de comprar todas as revistas em que Myriam Rios aparecia em ensaios sensuais, feitos antes do namoro com o Rei.

Durante a entrevista coletiva de "Duetos", seu mais recente disco, o Rei queixou-se:

- Não li o livro todo, mas as coisas que tomei conhecimento me desagradam muito. Há inverdades ali, que ofendem a mim e a pessoas queridas, maravilhosas. Essas pessoas, assim como eu, merecem respeito - disse, sem esconder a indignação. - Para mim é muito estranho que alguém lance mão de minha história, um patrimônio meu. Ninguém vai contar a minha história de forma melhor e mais verdadeira. Estou muito aborrecido e muito triste.

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Pouco depois, ele lembrou que há 20 anos tem o projeto de contar sua história num livro. Mas acaba adiando o projeto todo ano:

- Ano que vem eu começo - falou, ao mesmo tempo brincando e a sério.

O cantor já havia dito, pouco depois do livro ter sido lançado, em dezembro do ano passado, Roberto Carlos declarou que pretendia tomar medidas legais contra o autor do livro:

- Meus advogados estão estudando o caso, faremos o que for cabível na forma da lei - anunciou, insistindo na tese da "apropriação de patrimônio" - O autor se apropriou do meu patrimônio. Ele falou bem de mim, mas e daí? Nem por isso ele tem direito de invadir minha privacidade.

Depois da declaração de Roberto Carlos, o autor Paulo César de Araújo se manifestou sobre o assunto em entrevista a Eduardo Fradkin, d'O Globo.

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- Eu não esperava por isso, não sei nem o que comentar - disse. - Fiz um trabalho positivo e só esperava coisas positivas. Fiz um trabalho sério de pesquisa histórica, sou um historiador. O livro não é um problema, é uma solução, porque estamos em 2006 e até hoje Roberto Carlos não tinha um livro que analisasse com propriedade sua obra - disse, elogiando "Como dois e dois são cinco", de Pedro Alexandre Sanches, mas ressaltando que era um livro de outra natureza.