Com as luzes do Ginásio do Ibirapuera apagadas na noite desta sexta-feira (21), o primeiro show da temporada de Roberto Carlos em São Paulo começou nas mãos da própria plateia. Munidos de lanternas imitando velas distribuídas na entrada, os fãs transformaram o ginásio em uma bela noite estrelada.
Ainda sem Roberto no palco, a banda RC-9 (reforçada por membros da Orquestra Sinfônica de São Paulo nas cordas) atacou de "Como é grande o meu amor por você", cantada pelo casal responsável pelos backing vocals ao longo do show.
O grupo entra em um medley, emenda "É preciso saber viver" e volta a "Como é grande...". Só então, após uma pausa, o Rei sobe ao palco, todo de branco, para cantar "Emoções". E o público canta junto, como se cumprimentasse o ídolo na mesma moeda: "Mas eu estou aqui/ Vivendo esse momento lindo/ De frente pra você/ E as emoções se repetindo".
Depois da música, ele começa a conversar com a plateia. Agradece aos fãs e aos patrocinadores e confessa: "Meu negócio não é falar. Acho que eu vou dizer mais sobre a minha carreira cantando", disse, antes de começar "Eu te amo, te amo, te amo". Showman que é, não cumpriu com tanto afinco a promessa, parando em outras oportunidades para dialogar com o público.
Longevidade
Em termos de longevidade versus qualidade, Roberto Carlos está para a música brasileira assim como os Rolling Stones estão para o rock. Com décadas de carreira, cada um sabe muito bem lidar com as expectativas dos seus fãs e com isso fazer de qualquer show uma apresentação memorável. Ao mesmo tempo nada soa caricato ou falso ambos sabem muito bem dosar profissionalismo com sinceridade.
Se o Rei não tem (nem nunca teve) a desenvoltura de palco de um Mick Jagger, compensa com seu carisma elegante. A postura é aquela que se tornou sua marca registrada, segurando o microfone com o pedestal inclinado na diagonal enquanto canta.
Além dos sorrisos constantes, ele se comunica com pequenos gestos aponta para o coração, "conta os dias" com os dedos em "Amor perfeito", espalma a mão representando os 50 anos de carreira. Em um momento mais íntimo, sentado em um banquinho e de violão em punho, revive a seu modo a clássica "Detalhes".
O repertório do show de pouco mais de duas horas (começou por volta das 21h20 e acabou às 23h25) repassa toda a carreira de Roberto. Um pot-pourri representa a Jovem Guarda com "É proibido fumar", "Namoradinha de um amigo meu", "Quando" e a nostálgica "Jovens tardes de domingo". Antes homenageia o pai e a mãe com "Meu querido, meu velho, meu amigo" e "Lady Laura", e também toca canções temáticas, como "Caminhoneiro" e "Mulher pequena".
"Amores bem-sucedidos"
Para introduzir a triste balada "Do fundo do meu coração" (de versos como "Mas basta agora o que você me fez/ Acabe com essa droga de uma vez/ Não volte nunca mais para mim"), Roberto lembrou das circunstâncias em que compôs a música, lançada em 1986. "Eu sempre quis escrever músicas sobre amores bem-sucedidos. Mas às vezes não dá. Quando eu fiz essa estava complicado".
Um dos momentos que causou mais frisson foi o bloco de músicas mais "sensuais", como definiu o próprio cantor. Começando com "Proposta", o clima vai esquentando com "Os seus botões" e "Café da manhã", até chegar ao ápice com a quase explícita "Cavalgada". As luzes diminuem e o telão vira uma noite estrelada, enquanto a banda entra em um arranjo épico, com solos de guitarra, e a iluminação volta a crescer, culminando com um sol no telão um momento grandioso digno de grupos como o Queen.
Quando Roberto volta a tocar "Emoções" a deixa para o final do show é lançada e o público da pista começa a se levantar de suas cadeiras em direção ao palco. Depois de "Como é grande o meu amor por você", vem "Jesus Cristo", fechando o primeiro show da temporada que segue até o dia 3 de setembro.
Roberto se despede e, enquanto a banda segue tocando, começa a tradicional distribuição de rosas para a plateia. A cena não deixa nada a desejar ao auge da "robertomania" (versão nacional da "beatlemania") dos anos 60 mulheres se espremendo para ganhar uma flor entre as dez dúzias distribuídas.
Nada muito longe das bandas teens de hoje, como McFly e RBD, só que com décadas de carreira de distância. Sucesso e respeito deve ser essa a fórmula do Rei para nunca perder a majestade.
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