Aos 44 anos, Nasi está feliz da vida. Seu grupo, o Ira!, goza de uma popularidade inédita em 25 anos de estrada. A carreira-solo também vai de vento em popa: Onde os Anjos Não Podem Pisar, o quarto disco dele sem a banda, recebeu elogios calorosos da crítica. Sem contar o fim definitivo de sua relação negativa com álcool e drogas, que quase o arruinou nos anos 90.
Atração de hoje no bar Zoe, em Curitiba, o cantor paulistano promete apresentar, na íntegra, o repertório de Onde os Anjos..., lançado no início deste ano. Em compensação, não cantará sequer uma canção do Ira!. "Pode até ser um público pequeno, mas que pelo menos não peça Flores em Você", diverte-se, citando um dos maiores sucessos da banda. Confira os melhores momentos da entrevista que ele concedeu ao Caderno G sobre o disco, o show e suas posições políticas.Caderno G Seja sozinho ou com o Ira! você sempre aparece em Curitiba. Qual sua relação com a cidade?Nasi Eu poderia dar uma de marqueteiro e dizer que Curitiba é uma boa cidade para testar novos produtos (risos). Mas acho que é porque os curitibanos e paulistas têm uma identidade semelhante. Ambos são vistos, por quem é de fora, como calados, sisudos. O clima também é parecido, além de eu achar que Curitiba é uma São Paulo planejada. São cidades-irmãs, com bandas parecidas. Vocês até têm um Ira! aí, que é a Relespública. Depois de São Paulo, Curitiba é a cidade em que mais faço shows-solo.Há músicas do Ira! no repertório desta noite? O público as pede muito?Não tem nada da banda. Há pouco tempo, fiz uma mini-turnê pelo interior do Paraná, interiorzão mesmo, e ninguém ficou exigindo músicas do Ira!. Quem se preocupa com isso são os contratantes. E eu tento administrar a situação, dizendo: "Calma, que tudo vai dar certo" (risos). Nem todo mundo conhece as músicas da carreira-solo, mas o show é bem dançante. O pessoal aprende a cantar um refrão ou outro e entra no clima.Onde os Anjos Não Ousam Pisar traz uma diversidade de estilos que vai do rock ao rap, do blues ao jazz. Qual foi o caminho para conferir uma unidade a esse repertório?Antes de responder, quero deixar claro que esse não é o meu primeiro disco-solo, como dizem por aí. É o quarto, pois também coloco na lista os três que gravei como Nasi e os Irmãos do Blues. O nome Irmãos do Blues surgiu como uma grife, para enfatizar que se tratava de uma banda de blues. Mas o conceito é meu. A diferença é que agora tirei essa amarra do blues. É uma evolução na minha carreira-solo, troquei um certo purismo pelo experimentalismo. Sobre a unidade, acho que ela se dá através de uma atmosfera de timbres. É ela que dá liga entre as músicas, já que cada uma conta uma história diferente.E que histórias você quis contar nesse disco?As letras são descrições de personagens urbanos, relatos de desventuras amorosas. Mas falo do amor desencantado, questionador. Uma maneira mais blues de falar de amor, no sentido de ser um amor não realizado. É o outro lado da moeda do amor.Artistas experientes costumam se cercar de músicos jovens quando se lançam em carreira-solo, com a justificativa de "oxigenar o trabalho". Mas você fez diferente, convidando para o disco veteranos como Zé Rodrix, o rapper Thaíde, Gigante Brasil (baterista da lendária Gang 90), Nivaldo Campobiano (guitarrista da banda oitentista Muzak) e Johhny Boy (multiinstrumentista e antigo colaborador do Ira!), entre outros. Foi uma opção consciente?Não, e nem tinha percebido isso. Mas é verdade. Enquanto alguns artistas buscam rejuvenescer, eu faço uma apologia dos meus 40 anos. É o melhor momento da minha vida, em todos os sentidos: na arte, como pessoa, fisicamente. Além do mais, há uma máxima de que as meninas gostam de homens grisalhos (risos). Voltando ao disco, acho que me cerquei de velhos amigos mesmo. O Zé Rodrix, por exemplo, eu conheço de tomar pingado no bar. O Ira! já tinha gravado "Por Amor", uma música dele, no disco Acústico. Dessa vez, gravei a faixa-título, que, aliás, é uma parceria do Zé com uma poeta aí de Curitiba, a Etel Frota.Você é filiado ao PC do B e, vira e mexe, dizem que vai se candidatar a algum cargo eletivo. Como é sua militância?Pelo menos não me candidataria pelo PFL, como tentou o Paulo Ricardo (o ex-RPM desistiu na última hora, quando descobriu que não poderia fazer shows durante a campanha para deputado). Que mico! Sou vizinho de um diretório e acabei me filiando ao PC do B, um dos poucos partidos que não entrou na lista dos sanguessugas. Mas candidatura nunca foi a minha intenção, até porque a democracia ainda não me convenceu de que carneiro e lobo devem se sentar à mesma mesa. Esse papo de aliança, governabilidade, não me convence. Sou mais útil na luta pela numeração dos discos, na luta contra o jabá. De qualquer forma, acho que a esquerda vive um momento de se reavaliar. Há um desencanto muito grande com os rumos da política, hoje não temos nem uma oposição de verdade no país.O PC do B é aliado de primeira hora do governo Lula. Vai votar nele novamente?Não. Estou entre o nulo, a Heloísa Helena e o voto na praia. Acho que vou justificar na praia (risos).
Serviço: Show com Nasi. Hoje, a partir das 22 horas, no Zoe (Av. Batel, 1.645), (41) 3026-3636. Ingressos a R$ 15. Antes, às 19 horas, o cantor participa de um bate-papo e sessão de autógrafos nas Livrarias Curitiba do Shopping Curitiba (R. Brigadeiro Franco, 2.300), com entrada franca.
Governo pressiona STF a mudar Marco Civil da Internet e big techs temem retrocessos na liberdade de expressão
Clã Bolsonaro conta com retaliações de Argentina e EUA para enfraquecer Moraes
Yamandú Orsi, de centro-esquerda, é o novo presidente do Uruguai
Por que Trump não pode se candidatar novamente à presidência – e Lula pode
Deixe sua opinião