O repertório do pianista inclui bandas como Pink Floyd, System of a Down, Muse e Legião Urbana| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Piano pop

Conheça e relembre outros pianistas que fazem sucesso criando versões instrumentais de canções populares:

Richard Clayderman (foto)

O pianista francês, que se apresenta no próximo dia 30 no Teatro Positivo, se tornou um rei do easy listening ao vender dezenas de milhões de discos misturando um repertório de baladas da música pop e peças conhecidas do mundo erudito. Ele também toca a famigerada "música do gás"...

Viktoriya Yermolyeva

Conhecida como Vika, a pianista ucraniana tem quase 80 milhões de visualizações de suas dezenas de vídeos em que faz versões para canções de rock e metal. Além de manter o canal vkgoeswild no YouTube, Viktoriya também segue carreira de concertista.

Vinheteiro

O arranjador, produtor musical, compositor e sonoplasta Fabrício di Paolo já conseguiu mais de 40 milhões de visualizações em seu canal de YouTube em que se apresenta como o "Vinheteiro". O pianista faz versões para músicas pop e trilhas sonoras de cinema, videogame e anime.

Brad Mehldau

Uma das facetas do trabalho deste respeitado pianista de jazz americano é a inclusão de releituras originais para músicas de artistas de rock como Nick Drake e as bandas Nirvana, Radiohead e Beatles.

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Próximos shows

Rock ao Piano 4

Teatro do Paiol (Lgo. Guido Viaro, s/nº), (41) 3213-1340. Dia 12 de novembro

Rock Nacional

Solar do Barão (R. Pres. Carlos Cavalcanti, 533), (41) 3322-1525. Dia 11 de dezembro.

A ideia não é nova e tampouco goza de muita credibilidade no mundo musical. Na verdade, é o tipo de coisa para a qual a crítica costuma torcer o nariz há décadas. Mas, a se julgar pela última apresentação do jovem pianista curitibano Bruno Hrabovsky em Curitiba – quando lotou três apresentações seguidas e encheu boa parte do Teatro do Paiol em uma quarta sessão –, sempre haverá ouvidos dispostos a relembrar velhos sucessos e apreciar um bom e despretensioso cover.

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VÍDEO: Bruno Hrabovsky toca "Aerials", da banda System of a Down

O show em questão aconteceu em setembro. Hrabovsky, que vem se apresentando desde o ano passado com um repertório que reúne versões de piano para músicas de diferentes estilos do rock, montou uma apresentação apenas com canções do Pink Floyd. O show foi disputado (leia mais abaixo).

"É um projeto diferente, que as pessoas não esperam ver", supõe o músico, que também atribui a procura a um empurrãozinho da popular página da prefeitura de Curitiba no Facebook, que anunciou o show de setembro. "O piano é associado à música erudita ou ao jazz. Em geral, as pessoas não conseguem imaginá-lo no metal, por exemplo. Elas passam e veem Black Sabbath, Beatles, Coldplay, Slayer, Pearl Jam e Halloween no cartaz, ficam curiosas e vão para ver como é", diz o músico, que tem a próxima apresentação marcada para novembro.

Bruno Aguilar Guimarães (o complicado sobrenome Hrabovsky, quem diria, é artístico e emprestado de um bisavô) tem 25 anos e é formado em Geologia pela UFPR em 2013. Estudou piano dos 6 aos 21 anos com uma professora particular, Luciana Bissi, em um antigo Essenfelder da casa da avó. "Ele estava aqui desde que nasci e ninguém mais tocava. Comecei a bater nas teclas, até que trouxeram uma professora", conta o músico, que confessa ter seguido os estudos sem muito rigor.

Dividindo uma grande sala com uma confusão de objetos de outras épocas – VHSs, enciclopédia, fax, bambolê e antigos brinquedos dele e de dois irmãos mais novos –, o músico tira as músicas de ouvido, monta suas versões e as memoriza. Escrever, só quando algum interessado pede por algum arranjo. "Nunca pensei em ser concertista", conta.

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Vitrola

Mahler, Stravinsky, Tchaikovski, Rachmaninov e Liszt até fizeram sua cabeça, mas o que tocava na vitrola dos pais prevaleceu. "Cresci ouvindo Legião Urbana e Pink Floyd, o que eles ouviam. Na adolescência fui atrás de outras bandas: System of a Down, Metallica, Queen e as de metal progressivo", elenca. Ele diz não ser diretamente influenciado por pianistas que trabalham com propostas similares, mas conta ser admirador de Jordan Rudess, tecladista do Dream Theater. "As bandas são minha grande inspiração", diz.

As ideias musicais de Hrabovsky são simples. Sua busca não é imprimir uma assinatura autoral em suas versões, e sim traduzir bem a essência roqueira de músicas cuja transposição para o piano não é tarefa fácil. Quando consegue, se orgulha em mostrar. "Posso tocar só rock, sem parar, por três horas, três horas e meia", calcula o pianista, entre uma música e outra que tocou durante o encontro com a reportagem da Gazeta do Povo. Das pontas dos dedos, vieram clássicos do Legião Urbana e Metallica, um épico do Symphony X, um Chopin e um ponteio de Camargo Guarnieri que para ele soa mais pesado que qualquer petardo de rock que já tocou. "E agora, o que vocês querem ouvir?"

Opinião

Entre as rochas e o piano, Bruno faz as escolhas certas

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Eduardo Aguiar

O desafio não era fichinha: um músico pouco conhecido, ante a um teatro lotado e intimista, tocando canções – algumas delas quase ignoradas – de um dos maiores grupos de rock de todos os tempos durante mais de duas horas, sem qualquer apoio de produção ou pirotecnia visual.

Já em sua segunda apresentação na mesma noite, um Bruno Hrabovsky tímido e empolgado conta um pouco de sua história (largou a geologia para se dedicar à música) e sobre a escolha do set e avisa: tirou todas as canções "de ouvido" e não usa o apoio de partitura durante o show.

Uma fala suave e vagarosa passa uma primeira e falsa impressão de que o discurso seria enfadonho. Mas antes mesmo de sentar-se para executar 14 canções do Pink Floyd, uma de cada disco da banda, o músico já havia ganhado a plateia com seu carisma.

Finalmente ao piano, os aplausos pululam ao último acorde de "Bike", faixa do primeiro álbum do grupo britânico, The Piper at the Gates of Dawn, que abre o espetáculo.

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Numa exibição longa, que teria propensão para fazer dormir boa parte dos presentes, Hrabovsky consegue prender a atenção até mesmo em faixas menos conhecidas e mais psicodélicas, como "The Narrow Way Part Three", do também pouco famoso LP Ummagumma.

A missão de manter a plateia ligada durante duas horas e meia de canções entremeadas com a sinopse de cada disco feita pelo próprio Bruno é cumprida com êxito, e mesmo eventuais tropeços na condução de algumas músicas são perdoáveis e entendíveis como parte de um espetáculo amador por essência – o próprio pianista opera o aparelho que projeta as capas dos discos numa das paredes do teatro e não há qualquer mudança na iluminação durante todo o espetáculo.

Difícil apontar um motivo único para que um artista novato e quase desconhecido lote quatro sessões seguidas em uma apresentação solo ao piano, mesmo sem grande divulgação. Muito provável que a escolha de um repertório à base de pop, rock e psicodelia seja uma das chaves do sucesso, atraindo os fãs do gênero. Mas o boca a boca também, e este é resultado único do talento e da empatia de Bruno – qualidade que, unida ao aperfeiçoamento musical e a produções mais incrementadas, pode fazê-lo alçar voos bem mais altos.

Entre as rochas e o piano, Bruno fez a escolha certa. Basta agora se dedicar a lapidar sua técnica.

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