O casal Fitzgerald: lindos, ricos e inteligentes| Foto: Divulgação

Romance

Esta Valsa É MinhaZelda Fitzgerald. Tradução de Rosaura Eichenberg. Companhia das Letras, 304 págs, R$ 45.

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Se, no ano passado, muito se falou e foram lançados diversos livros de e sobre F. Scott Fitzgerald (1896-1940), o relançamento de Esta Valsa É Minha coloca novamente luz sobre a figura de Zelda Fizgerald, a outra metade do casal ícone da era do jazz.

O livro autobiográfico foi escrito durante apenas seis semanas, em uma das internações de Zelda em uma clínica psiquiátrica na cidade de Nyon, na Suíça. O texto é quase apressado, cheio de uma emoção angustiada que vinha da necessidade vital que Zelda sentia de se expressar no momento.

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Zelda reordena, desde a infância, suas memórias em primeira pessoa, sob a voz da protagonista Alabama Knight. O primeiro personagem marcante em sua vida foi o pai, um juiz religioso e ultraconservador do sul dos Estados Unidos que projetava uma vida de dona de casa para a filha e freava-lhe qualquer iniciativa criativa.

Mas Alabama queria ser bailarina e viajar, não podia viver à sombra do pai. Depois de alguns namoros adolescentes, deixa a vida provinciana, se casa com um escritor e ganha o mundo.

A menina alegre, sensível e sonhadora se encanta com o mundo de festas, viagens para a Europa e tertúlias literárias com grandes escritores e artistas, regadas a hectolitros de álcool. Não demora, no entanto, para o carrossel parar e os fantasmas da desilusão e da demência darem as caras.

De certa forma, todo o livro parece a versão pessoal de Zelda sobre tudo o que F. Scott Fitzgerald contara em Suave É a Noite (1934), em que ela própria aparece com o nome de Nicole.

É o único romance que Zelda conseguiu completar e, na época, mereceu recepção indiferente de público e crítica. Exceção feita ao próprio marido, que tentou impedir a publicação do livro.

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Scott já tinha se rendido a Hollywood, onde vendia seus textos para poder custear, entre outras coisas, as despesas das internações de Zelda.

Ele não gostou de saber que era personagem do romance da esposa e de ver expostas as brigas públicas e cenas de ciúme do casamento turbulento. Neste momento, ele era menos o companheiro libertador e mais uma versão rediviva da austeridade paterna. Porém, nem ela nem seu alter ego, Alabama, sabiam ser submissas.

"Zelda escrevia para se justificar, para se compreender, para se salvar. Para orientar a si própria dentro daquele poço onde tinha caído e que, até hoje, por falta de outra palavra mais adequada, chamamos de ‘loucura’", escreve Caio Fernando Abreu no prefácio da última edição brasileira do livro, lançada em 1986.

Esta nova edição manteve o prefácio do escritor, a tradução de Rosaura Eichenberg e conta com uma belíssima capa, assinada por Elisa Von Randow.

Nunca houve uma mulher como Zelda

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Zelda e F. Scott Fitzgerald foram o casal ícone dos roaring twenties como ficou conhecida a década de 1920, período de transformações do mundo pós-guerra e revolução comunista, que mudaram o comportamento e as artes e ditaram a estética do século 20.

O casal Fitzgerald era um dos mais celebres na fauna dos métèques, a legião de artistas estrangeiros que vivia em Paris naquela época em que a vida parecia ser uma grande festa. Eram bonitos, ricos e inteligentes.

Tinham, porém, uma relação de amor e ódio que descambava para o melodrama com os hectolitros de álcool que o casal tinha o hábito de ingerir. Cenas de ciúme, brigas em lugares públicos e tentativas de suicídio se tornaram comuns.

Livre, louca e corajosa, Zelda entrou para a história do século 20 como a mulher símbolo desta época. Sua biógrafa Sally Cline disse em recente entrevista ao jornal londrino The Guardian que ela "parecia a heroína trágica de romances, seus e de outros autores".

Depois que o "sonho acabou", no anos 1930, Zelda foi diagnosticada com doença mental e passou o resto da vida entrando e saindo de clínicas. Morreu aos 48 anos, em 1948, trancada na sala de eletroterapia durante o incêndio de um hospital psiquiátrico.

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