Se a edição de 2012 do Oscar fez alguma injustiça, certamente foi com a obra-prima do diretor Nicolas Winding Refn, Drive, que estreia hoje nos cinemas. Mesclando ação, terror, arte e romance, o diretor dinamarquês criou um daqueles raros filmes em que é possível apreciar estética e conteúdo com o mesmo gosto, sem recair em obviedades de fotografia ou dramalhões.
A trama é simples e, de certa maneira, homenageia os filmes de vingança populares nos anos 80. Um motorista sem nome (Ryan Gosling), que trabalha tanto como mecânico quanto como dublê de filmes e carro de fuga para criminosos, se vê arrastado para uma emboscada quando tenta proteger a jovem Irene (Carey Mulligan), ameaçada por uma dívida que o marido contraiu na prisão. Misterioso, quieto, tímido e extremamente habilidoso em tudo o que faz, o herói é obrigado a abrir mão de sua potencialmente rentável carreira de piloto de corridas para impedir que os vilões tirem de sua vida uma de suas únicas felicidades.
Profundidade
A opção por usar os termos "herói" e "vilões" não é por acaso. A estrutura do filme é maniqueísta, com a clara distinção entre os bons e os maus. Mais do que isso, não há nada que dê tridimensionalidade ao protagonista, que simplesmente reage na mesma intensidade com que é impactado pelas relações interpessoais do filme. Nem por isso, Drive é bobo ou superficial. Toda sua profundidade está nos jogos de câmera e na direção do talentoso Refn, que alterna cenas de brilhante romantismo com cruéis tomadas de violência explícita em câmera lenta, no melhor estilo Sam Peckinpah.
Entretanto, quem esperar de Drive um clássico filme de ação, movimentado e com perseguições de carro, poderá se decepcionar com seu ritmo lento e silencioso. Com poucos diálogos e longas cenas contemplativas, a narrativa favorece a aura misteriosa do motorista que, apesar de quieto, se permite o descontrole, a raiva e os gestos tempestuosos. Fugindo dos clichês desse subgênero, suas cenas são ora horripilantes, ora tenras e bucólicas. Os espaços de silêncio são preenchidos por uma trilha sonora eletrônica e monótona, que não só reforça a aura retrô da obra como confere também uma sensualidade à atmosfera da cidade.
Drive tem todos os elementos para se tornar um filme cult, e ganha terreno pela ousadia da direção e da montagem pouco usual. Resta saber se o público fará ao filme a justiça que o Oscar não fez.