Programe-se
Flores Dispersas
Auditório Glauco Flores de Sá Brito Mini Auditório (R. Amintas de Barros, s/nº centro), (41) 3304-7900. 5ª a sáb. às 21 horas. Dom. às 19 horas. R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Até 26 de outubro. Classificação indicativa: livre.
Mini Auditório do Teatro Guaíra. Enquanto a competente atriz Vilma Fernanda dizia "Meu coração fala uma língua estranha", ao fundo se ouvia "No dia em que eu sair de casa minha mãe me disse...", aquela canção brega-atroz da dupla Zezé di Camargo & Luciano, que se apresentava ao lado, no Guairão. E foi ao som do repertório de lamentos em altos decibéis que Flores Dispersas, arrojada montagem sobre a vida de Júlia da Costa, considerada a primeira poeta do Paraná, teve que se erigir e se sustentar.
Sob um delicado cenário e um trabalho primoroso de iluminação, a peça repaginou a vida byroniana de uma das escritoras mais difíceis de definir na trajetória cultural paranaense. Antes de mais nada, as biografias de Júlia não são muito extensas e divergem até nas datas de publicação de seus dois livros, Flores Dispersas 1ª série e Flores Dispersas 2ª série, produzidos entre 1867 e 1868. Sabe-se que amou, envolveu-se em questões políticas uma proeza ao seu tempo , teve agitada vida jornalística e escreveu todo tipo de melancolia. Muita melancolia.
Desconsiderando os importantes aspectos históricos e sociais que compõem a personagem, indo apenas ao pé do texto, o legado literário de Júlia não é dos mais pungentes. Capaz de dizer "O céu é azul, mas os pássaros são mudos", a sua literatura, de modo geral, é de um parnasianismo irregular.
O que isso gerou ao texto e à direção de Regina Bastos? A peça erra quando acerta. Ao transpor o universo linguístico de seu tempo, Flores... entrega um retrato fiel do que Júlia escreveu, mas perde em comunicação. Se a estrutura cênica aproxima o espectador de seus dramas, suas feridas íntimas parecem não convencer mais tanto cada vez mais os escritores do romantismo desbragado ficam pelo caminho, embora, quando na vertente ainda mais precária, como em Zezé di Camargo & Luciano, continuem ecoando.
Ainda sobre o texto, a peça, que chega ao fim de uma longa temporada de quase 50 espetáculos, poderia ter dado mais ênfase à trajetória social da escritora. Entretanto, não deixa de ser importante resgatar uma figura pouco conhecida fora do ambiente acadêmico e que, ao seu modo, teve uma vida significante e deixou marcas: "Tenho medo, meu Deus, da solidão!", "Saúdo-te, minha solidão". Mesmo que marcas literárias não tão potentes.
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