Autor de mais de três mil obras e fascinado pelos casarões antigos de Curitiba, o pintor Ruben Esmanhotto (1954–2014) será lembrado de maneira tão vibrante quanto a luz que o fascinava| Foto: Acervo pessoal
Para o artista. a luz era mais importante que o objeto da pintura

Na vida e nos quadros que pintava, o artista plástico Ruben Esmanhotto cultuava a solidão. Ele morreu aos 60 anos num acidente de trânsito uma semana atrás, em Curitiba.

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Embora valorizasse o tempo junto da família e dos amigos, era mesmo dentro do ateliê, na casa que tinha sido dos pais, no bairro São Francisco, que ele vivia emoções intensas.

A dedicação ao isolamento não se trata de um pressuposto. A particularidade foi confirmada pelo próprio artista, dias antes de morrer, durante uma entrevista à Gazeta do Povo, por ocasião do lançamento de O Momento Suspenso – livro que faz uma retrospectiva de 40 anos de carreira.

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"Acho que Ruben sempre foi muito solitário", diz a irmã, Mauren Esmanhotto. "Mas, ao mesmo tempo que tinha algo de solitário dentro dele, dominava uma sociabilidade que era impagável."

O fato de gostar de passar momentos perdidos nos próprios pensamentos não chegou a limitar o mundo de Esmanhotto. O mais velho de quatro irmãos e, como diz a família, dono de uma sensibilidade contagiante, Ruben levava de maneira normal a vida além do ateliê, entre compromissos, encontros e convivências, principalmente com pessoas de interesses em comum.

Fora frequentes vernissages, reuniões com colegas de profissão, amigos e a família, estimava passar tempo em grupos de fotografia e de motocicleta. Era de um encontro de apreciadores de motociclismo, aliás, que voltava para casa no domingo passado, quando morreu depois de colidir contra um ônibus de transporte coletivo.

"Parece ironia. Ele tomava tanto cuidado com o trânsito que chegava a ser chato", contou o irmão mais novo de Ruben – ou Rubinho, como era mais conhecido –, Murilo Esmanhotto. "Ruben era muito precavido. Tudo para ele iria acontecer. Chegou a pedir, uma vez, que eu tirasse um adesivo da janela porque os ladrões poderiam marcar o detalhe. Só que o adesivo estava lá há anos."

Ironia, a violência no trânsito interrompeu a vida de um dos artistas plásticos mais importantes do Paraná. Parte dos pintores da geração de 1970, Ruben Esmanhotto largou a faculdade de engenharia para pintar quadros de Curitiba com nuances de luz, mistério e introspecção.

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Foi com retratos dos sólidos e antigos casarões da capital paranaense que o artista, nascido em 1954, ingressou oficialmente na arte – atividade impulsionada já na Escolinha de Artes do Colégio Estadual do Paraná, ainda na infância, por volta dos 10 anos.

Esmanhotto dizia não saber por qual motivo os casarões o atraíam tanto, mas explicava o entusiasmo que sentia ao ver a luz refletida nos imóveis históricos. Para ele, a luz era mais importante que o objeto da pintura.

Isso explica o motivo pelo qual fez da natureza-morta sua segunda grande concepção artística. "Os cenários são as obras de Rubinho mais fáceis de a gente gostar, mas a natureza-morta dele também é apaixonante. Ali não é uma simples natureza-morta. É uma combinação de cores e de sombras que traz algo especial", descreveu Antonio Cava, cineasta e curador, que organizava com o pintor uma mostra individual.

A fixação pela captura da luz e suas nuances levou Esmanhotto a viver um tempo em Cabo Frio, que ele dizia ser a cidade mais iluminada do país. No município carioca, o artista residiu boa parte da década de 1990, já junto da mulher e do casal de filhos. Foi quando passou a se interessar por temas marítimos.

Autor de mais de três mil obras, Ruben certamente será lembrado de maneira tão vibrante quanto a luz que o fascinava, seja como pessoa ou como artista.

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Ao longo da vida, foram mais de 40 exposições, inclusive na França e no Japão.

A mostra individual neste ano será mantida pela família. A exposição deve ser instalada no Memorial de Curitiba, como já tinha planejado o artista. Há também a possibilidade de que saia do papel uma mostra das fotografias feitas por Ruben.