Perfil - Saiba um pouco mais sobre o escritor Salman Rushdie
Prêmio
Com Os Filhos da Meia-noite (1980), Rushdie venceu o Booker dos Bookers, prêmio que apontou o livro mais importante nos 20 anos de história do Man Booker Prize, láurea mais prestigiosa da literatura no Reino Unido.
Obra
No Brasil, a Companhia das Letras publicou 11 livros do autor (as datas entre parênteses se referem à edição brasileira): Oriente, Ocidente (1995), O Último Suspiro do Mouro (1996), Os Versos Satânicos (1998, com edição de bolso em 2008), Haroun e o Mar de Histórias (1998, com edição de bolso em 2010), O Chão Que Ela Pisa (1999), Fúria (2003), Shalimar, o Equilibrista (2005), Os Filhos das Meia-noite (2006), Cruze Esta Linha (2007), A Feiticeira de Florença (2008) e Luka e o Fogo da Vida (2010).
O indiano Salman Rushdie teve a cabeça a prêmio em 1989, quando publicou Os Versos Satânicos. O romance mexe com o profeta Maomé e, tão certo quanto a chuva é molhada, incomodou muito os islâmicos mais tensos. A caça ao escritor durou quase uma década, até que o governo iraniano rescindiu a sentença (fatwa) em setembro de 1998.
Pessimistas dizem que o escritor ainda corre perigo, mas, se Rushdie já parecia tranquilo antes algo a ver talvez com seu olhar farol baixo , não é agora que vai se preocupar.
Na semana que vem, ele estará no Brasil para o lançamento mundial de Luka e o Fogo da Vida, durante a 8ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Será sua segunda vez no evento e também a segunda vez que reserva aos brasileiros a estreia de um novo livro o anterior foi Shalimar, o Equilibrista (2005).
Inspirado pelo filho mais novo do escritor, o garoto Milan (Luka é seu segundo nome), Luka e o Fogo da Vida retoma os personagens de Haroun e o Mar de Histórias, que a Companhia das Letras acaba de publicar pelo seu selo de bolso. Nos dois, ele anda por um caminho muito parecido ao de Lewis Carroll (1832-1898), criador de Alice no País das Maravilhas, lançando desafios de lógica e surpreendendo os personagens (e o leitor) com os absurdos que se empilham.
"Xá do blá-blá-blá"
Em 1990, ano seguinte ao da fatwa do aiatolá Khomeini, Rushdie decidiu realizar o desejo do seu primeiro filho, Zafar (Haroun é seu nome do meio), e escreveu um livro que o menino pudesse ler. O autor estava abatido com o episódio da perseguição por parte dos fundamentalistas religiosos e criou uma ficção que refletia o momento de certa forma.
Assim Haroun e o Mar de Histórias narra a saga de um jovem de 12 anos que precisa ajudar o pai, o "xá do blá-blá-blá", a recuperar a capacidade de contar histórias.
No caso de Luka e o Fogo da Vida, é outro o dilema que move Rushdie. Com 63 anos, ele teme não poder acompanhar o filho por muito mais tempo. Então Luka (irmão de Haroun) sai numa busca pelo Fogo da Vida, que fica no topo da Montanha do Conhecimento, perto do Lago da Sabedoria. Porque o fogo deverá salvar seu pai, que dorme um sono estranho, do qual não acorda de jeito nenhum.
O blog da Companhia das Letras publicou uma carta de Rushdie na última quarta-feira. O escritor explica nela algumas de suas motivações e conta que os dois livros, ambos infanto-juvenis, tratam de assuntos que sempre importaram para ele: "as relações entre o mundo da imaginação e o mundo real, entre o autoritarismo e a liberdade, entre o que é verdadeiro e o que é falso, e entre nós mesmos e os deuses que criamos".
Essas questões estão lá, mas não precisam ser cavadas pelo leitor. Mais ou menos como uma animação, no cinema, é capaz de abordar temas difíceis como a morte e vida sem deixar de entreter as crianças. Pense nos desenhos Ratatouille (2007) e Wall-E (2008), do estúdio Pixar.
Embora tenha sido pensado para um público mais jovem, Luka e o Fogo da Vida é desse tipo que entretém numa leitura descompromissada, mas pode oferecer muitas sacadas à medida que você exige mais dele.
999 vidas
Num instante, Rushdie mostra Luka acumulando vidas tal qual um personagem de videgame. Consegue mais de 900 e espera usá-las para encarar os perigos que cercam o Fogo da Vida a lógica também é do videogame.
Em outro, fala sobre a cidade que o garoto habita, Kahani, conhecida pelas fábricas de tristeza, que exportam o produto para o mundo inteiro. Mas elas fecharam e deram lugar aos Esquecimentos, "imensas galerias onde todo mundo ia dançar, fazer compras, fingir e esquecer".
Uma característica de Rushdie é juntar referências populares com outras mais elaboradas o que parece simples para ele e perfeito para um livro infanto-juvenil. GGGG
Serviço:
Luka e o Fogo da Vida, de Salman Rushdie. Tradução de José Rubens Siqueira. Companhia das Letras, 208 págs., R$ 42.
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